Um sobre Zero #18
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Muito pedagógico:
Anteriormente... no Um sobre Zero
Esta semana saiu o episódio 62 do podcast:
As notícias da semana
Copyright é a nova arma da Polícia
I just know it can’t be posted on YouTube
Esta afirmação de um polícia que se vê a ser filmado por outra pessoa e que decide colocar o seu telemóvel a tocar uma música da Taylor Swift, porque sabe que isso significa que esse vídeo não poderá ser colocado no YouTube por causa das políticas de copyright, diz muito sobre o estado deplorável da internet e dos direitos digitais de autor.
Bilionários a comparar pilinhas na ida ao espaço
Depois de Jeff Bezos anunciar que iria ser o primeiro passageiro (juntamente com o seu irmão e com uma convidada muito especial) da viagem inaugural ao espaço do foguetão da sua empresa BlueOrigin a 20 de Julho, Richard Branson, dono da Virgin Galactic veio agora anunciar que ele é que vai ser afinal o primeiro bilionário a ir ao espaço na viagem do seu foguetão a 11 de julho.
É um pouco triste que a exploração espacial esteja a ser alimentada pela comparação metafórica de pilinhas entre os bilionários que estão numa corrida para ver quem é o primeiro a chegar ao espaço. Espero bem estar errado, mas esta "corrida ao espaço" dos tempos modernos em busca da coroação daquela que será a primeira empresa a desenvolver verdadeiramente o turismo espacial, pode ser altamente prejudicial para este mercado (e consequentemente para a humanidade).
A ciência e engenharia por trás da exploração espacial não pode ser baseada numa luta de egos. Esta corrida pode ter consequências na qualidade e segurança destes voos. E depois o que é que acontece se um destes voos corre mal e causa uma tragédia? O turismo espacial morre (literalmente) logo à partida. E eu não estou preocupado com o futuro do turismo espacial em si. Mas estou preocupado, porque sei e vi o que aconteceu ao mundo depois de terminada a "guerra da exploração espacial" entre os Estados Unidos e a Rússia. O desinteresse pela exploração espacial teve consequências sérias. Perdeu-se aquela curiosidade e vontade de inovar e o mundo precisa da exploração espacial para desenvolver todo o tipo de tecnologias e inovações que são depois úteis em muitas outras áreas.
Portanto, chateia-me ver que estes bilionários e a sua corrida ridícula de quem é o primeiro a chegar ao espaço possa ter consequências bem sérias para o resto da humanidade.
Estou a ficar obsoleto como programador
O anúncio da nova ferramenta de apoio à programação lançada pelo Github (agora da Microsoft), de nome Github AutoPilot, é um sinal do que poderá vir a ser o futuro da programação. Esta ferramenta de inteligência artificial visa oferecer sugestões de código ao analisar o contexto do que já está presente no código.
Como é que funciona? É simples: através do texto já existente no editor de código, a ferramenta usa o GPT-3 (um modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI) para determinar a intenção do programador e depois oferecer sugestões de código que encaixa nessa intenção. Para isso, a ferramenta em questão aprendeu com milhões de linhas de código open-source já existente por esse mundo fora. Por exemplo, se eu começar a escrever o nome de uma função que diz algo como "searchBooksByTitle", o CoPilot é capaz de me sugerir o código de um cliente de um web service da Amazon que me permite pesquisar livros com base num parâmetro de entrada que é o título.
Neste momento, o CoPilot ainda é bastante rudimentar, mas o facto desta ferramenta conseguir simplificar e automatizar algumas das tarefas chatas da programação já é um sinal de que a tecnologia de programação automática poderá ser uma realidade no futuro. Eu sei o que isto significa para pessoas como eu em que a programação é o seu ganha-pão. Tal como os condutores da Uber que um dia serão trocados por carros autónomos, e os empregados de armazém da Amazon que um dia serão trocados por robots, também os programadores um dia serão trocados por bots que conseguem programar sozinhos. Mas sinceramente, não estou preocupado. Estas mudanças acabam por ser inevitáveis. Nós só temos de aprender com elas e adaptarmo-nos para não nos tornarmos obsoletos.
Acho que este tweet resume um pouco a coisa:
Facebook safa-se da acusação "antitrust"... por agora
O Facebook estava a ser acusado de práticas monopolistas pelo facto de dominar o mercado de redes sociais, com as suas aquisições do Instagram e WhatsApp. O tribunal federal veio agora dar razão ao Facebook, permitindo por agora, à empresa safar-se de ter de partir o grupo em várias empresas independentes.
De qualquer forma, a conclusão do tribunal não pareceu ser de que concordava com o Facebook, mas sim de que achava que a abordagem da acusação não foi a adequada. Portanto, parece-me que isto ainda dará pano para mangas, quando a FTC decidir voltar ao ataque.
Eu não consigo formar uma opinião muito séria à volta destas temáticas de anti-trust e práticas monopolistas, mas tendo ser a favor de impedir que estes gigantes sejam "demasiado gigantes". Chega a um ponto, em que estas grandes empresas impedem que outras pequenas empresas consigam desenvolver a verdadeira inovação que possa tornar-se em concorrência. Porque quando isso acontece, simplesmente copiam ou compram a concorrência. E isso não é bom para os consumidores.
Twitter aposta em "facetas" para os utilizadores
Esta ideia do Twitter permitir que os utilizadores possam definir "facetas" nas suas contas, parece-me excelente. Um dos problemas de seguir certas pessoas no Twitter é que quando as seguimos, seguimos todo o seu conteúdo. E por vezes, uma pessoa de que gostamos de seguir porque até tem uns insights muito porreiros sobre, por exemplo, inteligência artificial, é depois a mesma pessoa que faz imensos tweets sobre um desporto qualquer e a sua equipa favorita, do qual eu não tenho interesse absolutamente nenhum. Inversamente, posso gostar imenso de seguir os tweets pessoais de um amigo, mas não ter minimamente interesse quando ele se põe a falar do seu trabalho na área da indústria dos laticínios.
E, portanto, haver a possibilidade de cada pessoa criar estas "caixinhas" de conteúdo separadas dentro da mesma conta, permite exatamente compartimentalizar o conteúdo que produz e facilitar assim a vida a quem a segue.
Vamos ver se avança.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Smithsonian Magazine - How 'One Hundred and One Dalmatians' Saved Disney
Hoje em dia a Disney é o gigante que conhecemos no mundo da animação e na produção de todo o tipo de filmes. Mas houve uma altura em que a empresa estava quase a desaparecer e acabou por ser salva por uma fotocopiadora. Quer dizer, "uma fotocopiadora" é estar a esticar um pouco a história, mas é mais ou menos isso.
Numa altura em que a secção de animação da empresa estava prestes a falir por causa dos elevados custos da produção de filmes de animação comparados com o que estes filmes conseguiam depois obter em rendimento nas vendas em cinemas, foi a inovação da utilização de fotocopiadoras no processo de produção de células de animação que fez com que houvesse uma redução considerável no custo e tempo de produção de um filme de animação.
Há mais detalhes nesta história, portanto vale mesmo a pena lerem o artigo.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
Hidden Brain - What Twins Tell Us
Em 2019, o Hidden Brain já tinha feito um episódio do podcast sobre a história incrível de dois pares de gémeos em que um dos irmãos de cada par foi parar à outra família e que mais tarde, já adultos, acabaram por descobrir que tinham sido trocados.
Agora decidiram revisitar esta história com um novo episódio e sobre o que se aprendeu com a investigação que é feita à volta do estudo dos gémeos e a relação entre a genética e o ambiente em que se cresce. Altamente recomendado.
Brevemente... no Um sobre Zero
O próximo episódio do podcast será sobre o futuro da exploração espacial.
Brevemente.
Nota final
Férias!
Bom fim de semana