Um sobre Zero #23
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Quando se abusa nos prazos que se impõem
Anteriormente... no Um sobre Zero
Como neste próximo Domingo serão as Eleições Autárquicas, quase de certeza que o tema do voto eletrónico vai voltar à ordem do dia. Caso ainda não tenham tido oportunidade de ouvir os episódios do Um sobre Zero sobre essa temática, então aproveitem agora para os ouvir:
Facebook: a sequela!
Eu sei, eu sei, já parava com isto, mas a culpa é do Wall Street Journal.
No seguimento das notícias que falei a semana passada, o Wall Street Journal continuou a sua perseguição ao Facebook numa compilação de casos reportados por via de whistleblowers que contam episódios complicados da grande rede social. O tema principal parece ser mais uma vez a inação do próprio Facebook quando confrontado com situações que se esperariam que fossem tratadas de forma diferente.
Uma das situações é o facto de um funcionário do Facebook ter encontrado provas de que um cartel de droga Mexicano estava a usar o Facebook para o seu processo de recrutamento e treino de membros do cartel. Mas, apesar de isto ser claramente uma ação que quebra os termos e condições da rede social (e já para não dizer, ilegal), quem de direito nada fez para travar a situação.
Outra das situações foi o facto dos próprios partidos norte-americanos terem reportado ao Facebook a sua preocupação por causa da forma como alterações ao algoritmo usado pela News Feed da rede social em 2018 acabarem por impulsionar muito mais o conteúdo polémico e de discórdia. Num contexto político, este tipo de mecanismo de engagement que alimenta ainda mais a divisão política nos EUA, torna-se ainda mais fraturante e ajuda a explicar as situações de polarização que dão origem a coisas como o ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021. Mas mais uma vez, o Mark Zuckerberg resistiu e insistiu que essa não é a maioria dos casos (tendo até aprovado um projeto que visa injetar na newsfeed dos utilizadores, histórias que dão boa reputação ao Facebook) e que a rede é maioritariamente uma plataforma para as famílias e amigos se manterem em contacto.
Pois, de facto mantêm-se em contacto, mas parece que é mais através de desinformação e discussões pouco produtivas, do que na saudável troca de ideias que poderia fomentar a compreensão e empatia na sociedade.
Internet rápida com lasers
Uma das iniciativas da empresa-mãe da Google, Alphabet, partilhou agora detalhes de um projeto que realizaram em África para fornecimento de ligação de internet rápida entre duas cidades de dois países diferentes. Isto não seria notícia, não fosse a abordagem anunciada ser baseada em lasers.
Por razões que desconheço, parece que não é viável a instalação de cabos de fibra óptica no rio que separa as duas cidades (e países). Como tal, a empresa decidiu experimentar a abordagem de usar dois pontos de comunicação (cada um numa cidade diferente) que trocam feixes de laser de um lado para o outro, permitindo assim a troca rápida de informação a 20Gpbs.
A experiência tem estado a funcionar há menos de 1 mês e já transferiu cerca de 700TB de dados com um uptime de 99,9%, que diga-se, deve ser incomparavelmente melhor do que o acesso atual que estas regiões devem ter atualmente.
Eu só não quero imaginar é o que acontece a um pássaro que por acaso decidir atravessar a zona onde os feixes laser estão a ser enviados.
Apple a trabalhar na deteção de doenças mentais
Correm boatos que a Apple anda a investigar meios para ajudar a detetar doenças como a depressão e deficiências cognitivas. A ideia é usar os sensores existentes nos dispositivos (e provavelmente outros a serem incorporados em futuras versões dos iPhones e Apple Watches), as imagens de câmera e as entradas nos teclados, para extrair e analisar informação que permita aferir se a pessoa está mostrar sinais de declínio mental.
O objetivo é nobre, porque há aspetos destas doenças em que é importante detetar algumas situações bem cedo e poder intervir o quanto antes, mas este tipo de investigação preocupa-me sempre do ponto de vista da privacidade (porque é preciso garantir que os dados não saem do dispositivo e não há a possibilidade de serem usados para outros fins por entidades terceiras) e do impacto que falsos positivos/negativos poderão ter na vida das pessoas.
Streaming a dominar os Emmys
Os Emmys não são normalmente alvo de notícias de tecnologia, mas desta vez acho que vale a pena fazer a referência ao facto deste ano, pela primeira vez, a quantidade de prémios que foram para produções de empresas de streaming (Netflix, Apple TV+, etc.) ultrapassou o número de prémios dados às produções de empresas de média tradicionais.
Os principais vencedores foram a série The Crown (Netflix) e Ted Lasso (Apple TV +). Nunca vi a The Crown, mas o Ted Lasso foi provavelmente a melhor série que vi o ano passado (também só poderia ser, tendo em conta que é mais uma criação do Bill Lawrence, que é também o criador de uma das minhas séries favoritas, o Scrubs).
Seja como for, isto é um claro sinal para onde está a caminhar o futuro da TV.
Gigantes Tecnológicos não fazem frente a Moscovo
Aleksei Navalny, o ativista Russo e firme opositor de Putin que ficou famoso por ter sido alvo de envenenamento por parte dos serviços de informação Russos, viu uma app sua ser retirada das App Stores da Google e da Apple. A app em questão servia para coordenar protestos contra o Governo Russo e como tal, a pressão vinda de Moscovo para removerem a app das App Stores foi demasiado forte para a Google e Apple que decidiram ceder.
A tática para exercer essa pressão é que é brutal (e típica de um governo autoritário):
The decisions came after Russian authorities, who claim the app is illegal, threatened to prosecute local employees of Apple and Google — a sharp escalation in the Kremlin’s campaign to rein in the country’s largely uncensored internet. A person familiar with Google’s decision said the authorities had named specific individuals who would face prosecution, prompting it to remove the app.
Fonte: New York Times
Quando até empresas com esta dimensão e poder no mundo inteiro não conseguem fazer frente a este tipo de pressão e fazer aguentar os valores democráticos de eleições livres, é mesmo preocupante.
Recomendações de leituras para o fim de semana
The Verge - File not found
Texto brilhante que dá uma perspetiva muito interessante sobre a forma como a evolução dos dispositivos que usamos todos os dias e a forma como abstraem os conceitos de usabilidade, fazem com que simples conceitos (como o de Ficheiro) comecem a entrar em desuso de tal forma, que obriga a repensar a forma como se ensina tecnologia às crianças.
Brevemente... no Um sobre Zero
Nas últimas semanas, o mundo da internet tem sido varrido com notícias da jovem Norte-Americana Gabby Petito e do namorado, não só pelo facto de ela agora ter aparecido morta, mas também por mais uma vez o online vigilantism estar na ordem do dia. Milhares de anónimos usam toda a informação que têm acesso na internet para tentar agregar informação sobre o que aconteceu com este casal enquanto faziam a sua viagem pelos Estados Unidos da América.
Este tipo de iniciativa pode ter consequências preocupantes e levanta sérias questões sobre a responsabilidade e ética da utilização de informação pública. No próximo episódio do Um sobre Zero, vamos falar sobre esta temática, e em particular perceber o que é Open Source Intelligence.
Não percam.
Nota final
Já fiz a submissão do Um sobre Zero aos prémios PODES 2021. 🤞
Bom fim de semana