Um sobre Zero #27
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Uma maneira... diferente de alegrar o dia
Anteriormente... no Um sobre Zero
No mês de Outubro em que se tenta consciencializar as questões de saúde mental, vale a pena relembrar o episódio 36 do Um sobre Zero, em que falei com 3 médicos diferentes sobre Telemedicina e Saúde Mental.
"Fricção" no Twitter
Uma das coisas que falei no episódio 13 do Um sobre Zero foi o conceito de se usar fricção para desincentivar comportamentos indesejados dos utilizadores nos sistemas de informação. O Twitter tem apostado muito nesta abordagem ao desenvolver pequenos elementos que tentam travar certas ações dos utilizadores, nomeadamente, aconselhar o utilizador a rever o texto quando é detetado que contém discurso agressivo, ou por exemplo sugerir ler um artigo primeiro antes de partilhar (quando deteta que a pessoa não clicou sequer no link para ler).
Apesar de serem subtis, estas mudanças podem ser o tipo de iniciativas que aos poucos permitirão fazer das redes sociais uns locais mais agradáveis.
Black Mirror na vida real
Quando o Black Mirror começa a ser um documentário e não uma série de ficção: uma empresa Americana de robótica decidiu desenvolver este tipo de protótipo de armamento (com zoom óptico, câmera termal e capacidade de matar um humano a mais de 1km de distância) que se vê em seguida.
E depois queixem-se que a Skynet se torna real.
Vehicle-to-Grid
No episódio 47 do Um sobre Zero, o Pedro Pinheiro falou do conceito de Vehicle-to-Grid, em que um veículo elétrico é usado para fornecer energia de volta para a rede elétrica quando é necessário. Um exemplo seria a circunstância em que uma pessoa carrega o carro elétrico no local de trabalho durante o dia (fornecida por exemplo por energia solar) e depois quando chega a casa, teria a possibilidade de ligar o carro à rede da casa, permitindo assim usar o carro como uma bateria que permite abastecer a casa (para os eletrodomésticos e iluminação). Em termos práticos, o carro funcionaria como uma powerbank para a casa.
Até agora isto era ainda muito teórico, uma vez que ainda não é prático criar este tipo de sistema nas casas, mas é muito interessante ver o conceito a começar a ser usado a sério no mundo real. É o caso da forma como autocarros escolares elétricos estão a ser usados numa cidade dos Estados Unidos para fornecer energia de volta à rede em alturas de picos de consumo.
Este tipo de fornecimento de energia temporária pode ser uma resposta para a transição energética para veículos elétricos ao mesmo tempo que permite equilibrar as necessidades distribuídas de energia de uma sociedade cada vez mais exigente em energia sustentável.
China "mata" LinkedIn... na China
A Microsoft não aguentou a pressão do governo Chinês no que toca à forma como operava a rede social LinkedIn na China. Em Março, a Microsoft já tinha manifestado preocupação com o facto de não estar a cumprir com os requisitos exigidos pelo governo Chinês e acabou por fechar a porta a novas inscrições no LinkedIn Chinês enquanto "tentava cumprir com esses requisitos". Mas mais tarde o governo Chinês reforçou a pressão e o LinkedIn Chinês acabou por censurar mesmo conteúdo de activistas (só na China) que se focavam nas questões de direitos humanos na China.
Mesmo assim, a pressão continuou, e a Microsoft acabou por decidir que vai antes mudar o serviço para retirar completamente as componentes sociais do LinkedIn. Ou seja, irão criar um produto diferente e cujo objetivo é só oferecer as funcionalidades de promoção de emprego e nada mais. Mais uma vez, estes exemplos de governos autoritários a influenciarem a liberdade de expressão são extremamente preocupantes.
Vigilância vs. Privacidade
E na lista de produtos que ninguém pediu, a Amazon anunciou o seu mais recente produto, Astro, que é uma espécie de Alexa com rodinhas e que anda a passear pela casa, a registar tudo o que consegue encontrar. A ideia é oferecer vigilância e assistência básica para todos os habitantes da casa.
Eu percebo a motivação para algumas destas ideias (nomeadamente para assistência a familiares com autonomia reduzida ou para vigilância da casa quando não se está), mas o track-record de empresas como a Amazon no que toca a privacidade e vigilância (como forma de fazer dinheiro) é tão mau que me custa ver este tipo de iniciativas surgirem às mãos deles.
Mas têm dúvidas que a Amazon irá arranjar maneira de vender a informação que capta na casa para oferecer aos anunciantes que lhes pagam para os anúncios ou mesmo para determinar que tipo de produtos podem impingir no seu site?
O Facebook está a financiar uma iniciativa de investigação semelhante para vigilância contínua mas com uma motivação diferente. O objetivo é oferecer ao utilizador pequenas ajudas no dia a dia com base na informação que é recolhida. Por exemplo, ter depois uma Inteligência Artificial assistente em que se pode perguntar "Mas onde é que eu deixei as chaves do carro?", e a assistente ser capaz de rever as imagens do dia e perceber que a pessoa pousou as chaves num determinado sítio e guiar a pessoa até lá. Ou então ser capaz de determinar se a pessoa já pôs sal na comida e avisar para não colocar duas vezes. São exemplos simpáticos e que romantizam este tipo de tecnologia, mas o risco associado à ausência de privacidade em troca de alguma comodidade é grande.
Desgraça de um, é o tesouro de outro
Eu não costumo falar sobre o facto de grandes empresas mostrarem grandes lucros, mas adorei um detalhe delicioso na declaração de ganhos feita esta semana pela Netflix, que passo a citar (bold é meu):
Netflix still wants to grab more users’ attention, competing against activities like watching TikTok, playing Fortnite or reading. It shared some insight into that dynamic, saying that when Facebook experienced a global outage earlier this month, Netflix saw engagement increase 14% during that same time period.
Tradução: não há redes sociais? Vou ver Netflix.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Vox - The surprising downsides to planting trillions of trees
Bom texto que explica que a ideia de se plantar árvores para ajudar a combater as alterações climáticas não é a solução prática que a maioria das pessoas pensa que é. É certo que é importante reflorestar o planeta como forma de criar os mecanismos de biodiversidade necessários para combater o aquecimento global, mas importante do que reflorestar é saber fazê-lo da maneira correta. Muitas dessas iniciativas acabam por falhar porque não souberam fazer as coisas corretamente. Em certos casos, as árvores escolhidas para reflorestar não eram adequadas aos territórios onde foram usadas e portanto, acabam por morrer. Noutros casos, o falhanço foi devido ao mau planeamento. O desenvolvimento de uma árvore está muito dependente da fase de crescimento da árvore coincidir com a época do ano. E se não for bem planeado, o processo acaba por não dar frutos (literalmente). E em certos casos extremos, este tipo de iniciativas acabaram mesmo por prejudicar o ecossistema local.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
The Daily - The Great Supply Chain Disruption
De uma forma ou de outra, todos temos sido afetados com as falhas na cadeia de distribuição global que se têm sentido nesta pandemia. Este episódio do The Daily explica detalhadamente como isto aconteceu e como ainda vai demorar bastante tempo.
Brevemente... no Um sobre Zero
Mais conversas sobre Inteligência Artificial.
Nota final
Tendo em conta a performance do GPT-3 no último episódio do Um sobre Zero, estou muito curioso para experimentar também este modelo que parece que consegue fazer ainda melhor. Mas é preciso hardware que não tenho ☹️
Alguém me quer financiar um dos novos Macbook Pros (que com as especificações máximas, vai para cima de 6000 dólares)?
Bom fim de semana