Um sobre Zero #28
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
"Work smarter, not harder"
Anteriormente... no Um sobre Zero
O episódio 60 do Um sobre Zero abordou a temática do futuro da energia. Na altura não sabíamos que estava para se iniciar um crise energética que poderá tornar o Inverno bastante ... interessante. Mas o episódio serviu para o Pedro Pinheiro fazer uma excelente análise sobre quais são as diversas alternativas energéticas e qual o futuro de cada uma.
Vale a pena (re)ouvir o episódio para dar algum contexto ao que se vive atualmente neste campo da energia.
A visita de um cometa durante uma década
O maior cometa alguma vez registado com os telescópios humanos, vai fazer turismo no sistema Solar. Durante uma década ou mais, o cometa Bernardinelli-Bernstein vai fazer uma passagem entre as órbitas de Saturno e Urano entre os anos 2031 e 2036 e depois deverá ficar visível durante mais uns anos até à década de 40.
Quanto do cometa vai ser visível, vai depender muito daquilo que o compõe. Os materiais que o cometa contém vão influenciar a quantidade de gases que vão ser libertos durante a sua passagem tão perto do Sol. O aumento da temperatura do cometa à medida que começa a entrar no sistema Solar faz com que alguns dos materiais congelados comecem a evaporar e a transformarem-se em gases, o que vai fazer com que se comece a notar a típica cauda do cometa.
Vão ser uns anos interessantes para os entusiastas da Astronomia. (Siri, lembra-me para comprar ações de empresas que vendam telescópios em 2030)
Plantas que são candeeiros
Isto parece ficção científica mas é mesmo investigação à séria. Investigadores do MIT criaram um conjunto de nano-partículas que após injeção em plantas permite que estas absorvam luz e depois a emitam de volta. E não é um processo único. Estas plantas podem mesmo ser constantemente recarregadas para repetirem o processo de absorção/emissão de luz.
Basta serem "carregadas" com luz durante 10 segundos, para depois serem capazes de emitir luz durante vários minutos. Mas o mais incrível aqui não é a ideia de permitir que as plantas possam também ter a função de "candeeiros". O grande avanço aqui tem a ver com o facto de se conseguir usar nano-partículas para aumentar o leque de propriedades funcionais de um ser biológico, neste caso, uma planta.
O próximo passo, quem sabe, pode ser a absorção e emissão de ondas rádio. Daí até ter WiFi nas florestas é apenas um pulinho. É essa a resposta para a reflorestação do planeta: WiFi em todo o lado. (Just kidding... mais ou menos)
O que a exploração espacial nos deu
Eu comecei o episódio 63 do Um sobre Zero a perguntar porque precisávamos da exploração espacial. Ao que o Professor Paulo Gil respondeu que, para além do simples facto de ficarmos a conhecer mais sobre este universo onde vivemos, explorar o espaço implica inventar nova ciência e tecnologia. E inevitavelmente, essas invenções acabam por encontrar uma utilidade alternativa na sociedade.
Só esta semana descobri que há um site da própria NASA dedicado só a celebrar a quantidade de produtos comerciais que foram criados com base nos avanços científicos e tecnológicos derivados da exploração espacial: NASA spinoffs.
São mais de 2000 exemplos de inovação de todos os tipos, e que em muitos casos nem nos apercebemos que tiveram origem em tecnologia espacial. Estes produtos vão desde a agricultura à monitorização ambiental, da tecnologia de ensino à criação de fatos para desportos específicos, da tecnologia para fotografia à tecnologia para melhorar a saúde. É simplesmente impressionante ver todas estas histórias de inovação que nos obriga a ficar gratos por tanto que a exploração espacial já nos deu.
CRISPR vs. SIDA
Nas últimas semanas têm aparecido diversos avanços interessantes ao nível da ciência para a saúde. Entre eles destaco este em particular: a primeira autorização da agência federal Americana FDA (Food and Drug Administration) para que se realize um ensaio clínico para testar o uso de CRISPR (edição de genes) como uma forma de tentar curar o VIH (SIDA).
O objetivo é procurar uma solução de edição de genes de uso único que permitirá que as próprias células do corpo humano consigam simplesmente "cortar" a componente do VIH que se encontra à volta delas, oferecendo portanto uma forma essencial ao corpo humano de conseguir combater uma das doenças mais impactantes das últimas décadas.
Se o ensaio clínico for bem sucedido, será importante não só pela possibilidade que oferece a todos os que sofrem com a SIDA, mas também pelo potencial que revela no uso de CRISPR para curar outras doenças. Relembro que foi em 2020 que Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna ganharam o prémio Nobel de Química exatamente pelo facto de terem desenvolvido esta abordagem revolucionária de edição de genes.
Twitter inclinado para a Direita
O próprio Twitter descobriu, através de investigações internas, que os seus algoritmos de recomendação de conteúdos tende a favorecer a amplificação de mensagens de entidades políticas de Direita em relação ao mesmo tipo de mensagens de entidades políticas de Esquerda.
Mas da mesma maneira que o Twitter decidiu ser honesto e revelar publicamente o problema, também revelaram que não sabem (ainda) porque isto acontece. Ou melhor, eles conseguiram perceber que existe esse problema (em que amplifica tendenciosamente certos conteúdos em relação a outros) mas não conseguem apurar quais os mecanismos dos algoritmos de recomendação que funcionalmente justificam este resultado.
Acho que teremos de aguardar para saber mais, mas isto parece estar em linha com o resultado já visto noutras redes sociais em que tendem a favorecer o tipo de discurso mais inflamatório normalmente visto em campanhas de desinformação da Direita.
OnlyFans: a rede para os ... museus desinibidos
O organismo que gere o Turismo na cidade Austríaca de Viena, decidiu iniciar uma conta na rede social OnlyFans (conhecida rede social por permitir conteúdo com nudez e pornografia) em protesto contra o facto dos conteúdos publicados pelo organismo estarem a ser censurados na maioria das outras redes por conterem conteúdo impróprio.
Não, o Turismo de Viena não estava a publicar pornografia ou algo que se pareça. Simplesmente, estavam a partilhar alguns dos quadros dos museus e galerias da cidade. Acontece é que alguns desses quadros mostram pessoas nuas, o que parece ir contra as regras das mais variadas redes sociais.
E portanto, após vários meses em que as contas do organismo de turismo estavam a ser censuradas ou mesmo suspensas na maior parte das redes sociais, decidiram recorrer ao modelo de subscrição do OnlyFans onde conseguem finalmente colocar as imagens no seu esplendor. E os primeiro subscritores do “Vienna’s 18+ content” no OnlyFans até vão receber um passe para visitar essas obras de arte ao vivo.
É um pouco absurdo que se tenha de chegar a este ponto porque as redes sociais têm tanto medo de mostrar aquilo que há de tão belo no corpo humano. Enfim.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
Cautionary Tales - The Truth about Hansel and Gretel
Mais um excelente episódio de um dos meus podcasts favoritos, Cautionary Tales. Este episódio aborda a questão do sentido crítico dos humanos, ou a falta dele, na grande parte das situações. É exatamente essa ausência de sentido crítico que permite que a abordagem de desinformação nas redes sociais seja um problema tão grande hoje em dia.
Brevemente... no Um sobre Zero
Tenho estado constipado e isso afetou-me a voz. Como não tenho estado em condições para fazer gravações, não têm saído novos episódios, mas hão-de aparecer em breve.
Nota final
Sim, eu sei que o Facebook mudou o nome para Meta. Mas como eu disse que não ia falar mais sobre o Facebook, não vale a pena comentar.
Bom fim de semana