Um sobre Zero #35
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia. Estou de volta com a primeira edição da newsletter em 2022.
Por aqui, o ano começou com uma visita em massa da Ómicron e isolamento que nunca mais acaba, mas cá vamos.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Mais alguém viciado no Wordle?


Anteriormente... no Um sobre Zero
Apesar de ainda estarmos a viver no meio de uma pandemia, já deu para ter uma imagem daquilo que será o futuro que foi acelerado pela pandemia. A aposta no digital como forma de manter a sociedade a funcionar quando o presencial nos foi retirado, foi sem dúvida uma grande demonstração de força de vontade da sociedade em lidar com as circunstâncias impostas pelo novo coronavírus.
Infelizmente, tudo isto também evidenciou que, para uma boa parte da população e de algumas empresas, ainda há um grande caminho a percorrer para garantir que todos conseguem acompanhar esta transição para o digital. Por isso mesmo, para o primeiro episódio de 2022 do podcast, decidi convidar André de Aragão Azevedo, o atual Secretário de Estado para a Transição Digital.


Alertas que podem salvar vidas
Em tempos longínquos (corria o ano de 2010) eu e mais uns amigos, sugerimos num Codebits a criação de uma rede nacional de dispositivos de recolha e monitorização de informação sísmica, o qual baptizámos de TerraSentes. A ideia era termos uma rede que conseguiria em tempo real fornecer informação sobre eventos sísmicos com dispositivos simples e de baixo custo, com uma granularidade suficiente para ter utilidade para estudos científicos e até quem sabe notificações para alerta das populações.
Na altura, isso valeu-nos um prémio na hackathon em causa e eu cheguei mesmo a dar seguimento à ideia que ainda ocupou uns bons meses no meu trabalho de investigação. Testei o nosso protótipo nas mesas sísmicas do departamento de engenharia civil do Técnico ULisboa e apesar da ideia ter potencial, a verdade é que os sensores que tínhamos à nossa disposição na altura, pelo menos os baratos, não tinham a sensibilidade suficiente para servir o propósito que pretendíamos.
Partilho esta história apenas porque foi o que me veio à cabeça quando vi esta notícia que dá conta de um sistema de alerta que correspondeu às expetativas e conseguiu avisar a população (cerca de meio milhão de pessoas) de uma zona específica da Califórnia de que um evento sísmico estava prestes a acontecer. Os relatos das pessoas indicam que o sistema conseguiu avisar a população cerca de 10 segundos antes de começar qualquer tremor na sua área.
Pode não parecer muito, mas a verdade é que no caso de um terramoto, estes poucos segundos são o suficiente para uma pessoa se deslocar para uma zona mais segura onde o impacto de uma catástrofe será menor.
E apesar de eu (e os meus amigos) não termos conseguido montar algo do género em Portugal, fico contente em ver exemplos em que a tecnologia faz o que devia, que é ajudar a melhorar a vida de todos.
Sent from my ... brain
Este tweet foi o resultado de um teste de um paciente paralisado que tem um chip implantado no seu cérebro que lhe permite enviar sinais específicos que executam ações num computador, só com o seu pensamento. Atenção: o paciente não “pensou“ no texto e este apareceu. O que ele “pensou” foi nos movimentos do cursor do rato que passam por cima das letras de um teclado e que lhe permite escrever as letras uma a uma a fim de compor um texto completo. E, mesmo isso, é o resultado de muito tempo de calibração para perceber como traduzir sinais elétricos do cérebro em instruções específicas para um cursor num computador.
Mas é de facto um avanço incrível e que dá esperança a pessoas que sofrem de doenças que as imobilizam ao ponto de perderem a capacidade de comunicar com o mundo à sua volta.


E num futuro longínquo, imagino mesmo que isto se torne corriqueiro e nós passemos a assinar os e-mails com “Sent from my brain” em vez de “Sent from my iPhone”.
Anúncios dinâmicos em Podcasts
Anúncios dinâmicos em podcasts não é um assunto novo. Eu próprio já testemunhei este tipo de anúncios quando, ao ouvir um podcast estrangeiro, me aparece um anúncio aos gritos a tentar convencer-me a beber Frize Limão. Naturalmente, não terá sido a produção do podcast estrangeiro a encaixar um anúncio em Português no podcast, portanto essa terá sido uma instância do uso deste tipo de mecanismos dinâmicos de inserção de anúncios diretamente nos episódios dos podcasts.
A questão é que quando as produções dos podcasts passam a responsabilidade da escolha dos anúncios para um sistema externo, arriscam-se a que os mesmos não sejam adequados para a sua audiência. Como por exemplo, quando num podcast cuja audiência é maioritariamente crianças, surge um anúncio para uma série de TV chamada The Sex Lives of College Girls. Ou então quando num podcast de comunicação de ciência que aborda temas como as mudanças climáticas, aparecem anúncios da BP ou da ExxonMobil com o intuito de espalhar propaganda a favor dos combustíveis fósseis.
Não é de espantar que isto aconteça (aliás, já é uma prática corrente nas pesquisas do Google) mas ao nível de anúncios dinâmicos em podcasts, acho que é uma estreia.
O Um sobre Zero não tem publicidade, mas até pode vir a ter, mas com certeza não me parece uma boa opção fazer o outsourcing da escolha dos anúncios que por lá correriam, não fosse dar-se o caso de surgirem anúncios a promover coisas como o terraplanismo.
Drone desfibrilhador a salvar vidas
Era uma ideia fora-da-caixa quando surgiu mas a verdade é que agora provou-se que funciona. Uma vida salva já justifica o esforço e investimento feito para suportar esta ideia: drones equipados com desfibrilhadores que se dirigem rapidamente para zonas onde é dado o alerta da existência com uma pessoa com insuficiência cardíaca e que permite atuar nestas situações de emergência provavelmente mais rápido do que usando o método habitual de contactar o serviço de emergência e aguardar que chegue uma ambulância.
E o primeiro caso aconteceu na Suécia, onde está montado um projeto piloto deste sistema. Um senhor de 71 anos que teve uma paragem cardíaca enquanto estava a tirar neve da entrada da sua casa, foi rapidamente assistido por um médico vizinho que ao receber o desfibrilhador transportado pelo drone, conseguiu manter o paciente vivo o tempo suficiente para chegar a ambulância e levá-lo para o hospital.
Mais um brilhante exemplo de como a tecnologia pode ser usada para o bem da humanidade.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Wall Street Journal - Computers Revolutionized Chess. Magnus Carlsen Wins by Being Human
Uma leitura interessante sobre como o melhor jogador de xadrez de sempre, Magnus Carlsen, consegue tornar-se mais imprevisível (e eventualmente mais eficaz) por escolher não fazer como os outros, que simplesmente treinam de forma incansável contra super-computadores.
CNET - Making the next Beatles: How AI is changing pop music
Um cenário futurista que poderá não estar assim tão longínquo: a possibilidade de ter Inteligências Artificiais a gerar música.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
Freakonomics Radio - Does Death Have to Be a Death Sentence?
Eu não concordo necessariamente com todas as premissas expressas neste episódio, mas devo dizer que me tocou profundamente na forma como me obrigou a pensar na questão da morte e como a mesma é tão tabu hoje em dia. Acho que é um episódio muito importante de todos ouvirem, exatamente por isso: porque nos obriga a pensar se a morte (que é inevitável - pelo menos, por agora) tem de ser o bicho papão que todos idealizamos.
Brevemente... no Um sobre Zero
Vamos ver o que 2022 reserva para o podcast.
Bom fim de semana