Um sobre Zero #38
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Ver patos a tentar aterrar num lago gelado, tão relaxante:
Anteriormente... no Um sobre Zero
O Um sobre Zero está quase a fazer 2 anos, por isso vale a pena relembrar como tudo começou, com episódio 1 do podcast com o Pedro Pinheiro e o Pedro Rebelo.
A desinformação do Joe Rogan no Spotify
A semana passada falei sobre o facto do Neil Young ter decidido retirar as suas músicas do Spotify por causa da desinformação sobre vacinas COVID-19 espalhada por Joe Rogan no seu podcast que é exclusivo no Spotify. Durante esta semana que passou, esta novela ainda gerou muitos episódios:
A onda de protestos que se seguiu, motivou uma descida do valor de mercado do Spotify
O Spotify começou a perceber que a pressão aumentou, mas como continuam a não querer eliminar um dos seus elementos mais lucrativos, optaram apenas por adicionar avisos de conteúdo nos episódios que são acusados de conter informação falsa sobre as vacinas e tratamentos para a COVID-19 e também providenciar informação mais detalhada e baseada em factos aos ouvintes desses episódios.
Com esta onde de protestos, começa também uma (pouco saudável) onda de absolutismo de que agora quem oferece os seus conteúdos no Spotify está do “lado” do Joe Rogan e como tal, é um alvo a abater.
O podcast Um sobre Zero está disponível no Spotify, assim como em todas as outras plataformas de podcasting. Eu não ganho dinheiro nenhum com isso, portanto, para mim estar lá ou não estar é um pouco indiferente e seria muito fácil sair.
Mas há aqui uma questão de princípio muito básica: eu sou completamente a favor da expressão livre de ideias e completamente contra qualquer tipo de censura. E aquilo que o Spotify fez para responder a esta questão do Joe Rogan é, a meu ver, a atitude correta: o conteúdo continua disponível, mas deixa bem claro e assinalado que o mesmo tem falhas e que outras perspetivas e opiniões devem ser consideradas.
Reparem, retirar o Joe Rogan do Spotify (que detém a exclusividade dos conteúdos dele), significa que ele iria então espalhar a sua desinformação em TODAS as plataformas. E sem qualquer controlo editorial como acontece agora no Spotify. Para além disso, o facto de existirem esses conteúdos controversos, é exatamente o que permite lançar a discussão e que permite a outros produtores de conteúdos oferecer perspetivas alternativas às dele e corretamente fundamentadas com factos científicos.
A censura não é resposta. A discussão livre de ideias, sim. E se querem realmente fazer a diferença, façam como eu: não ouçam nada criado ou produzido pelo Joe Rogan (e outros produtores de conteúdo do género). Se mais gente o fizer, a motivação financeira que leva a que o Spotify lhe dê plataforma irá desaparecer aos poucos.
Facebook a levar uma ripada da Apple
Este tweet do Rui Carmo resume uma das histórias desta semana:


Pois é, o Facebook perdeu cerca de 230 mil milhões de dólares de valor de mercado num único dia, em grande parte, por causa da Apple e das medidas de anti-tracking que introduziu na última versão do iOS (o sistema operativo dos iPhones). Quando o próprio Facebook previu que iria perder cerca de 10 mil milhões de dólares com estas medidas da Apple, isso assustou os investidores e portanto, assim que a bolsa abriu, o Facebook entrou a perder mais de 25% do seu valor de mercado.
Isto já era esperado desde que a Apple anunciou estas medidas anti-tracking em meados do ano passado. Cá para mim, isto foi o que fez o Mark Zuckerberg ter impulsionado tão rapidamente uma mudança tão radical dentro do grupo, que se iniciou com a imposição da nova visão futurista do Metaverse e depois com a mudança do nome do grupo para Meta. Ele já percebeu que o modelo de negócio de depender da recolha indevida de dados dos utilizadores para vender anúncios tem os dias contados (até porque pela primeira vez na sua história, o Facebook perdeu utilizadores) e portanto, tem agora à força toda de apostar na nova coqueluche tecnológica que é mundo da realidade virtual/aumentada.
Eu vejo potencial na realidade virtual/aumentada, admito que sou fã. Não gosto é da ideia de ser a Meta a reinar neste campo. E a não ser que eles consigam mesmo redefinir a reputação manchada que atualmente têm, dificilmente conseguirão convencer o mercado de que são os “escolhidos” para fazer avançar esta tecnologia.
E se a Apple realmente conseguir trazer a sua habitual “revolução” quando decidem entrar numa nova categoria de mercado (tal como está previsto para o final de 2022 ou início de 2023), então aí é que a Meta fica arrumada a um canto.
Black Mirror da semana: cães-robots a patrulhas a fronteira
Alguém tem de dizer ao Departamento da Segurança Interna dos EUA de que o Black Mirror é suposto ser uma série de TV de ficção científica para refletir sobre os perigos das tecnologias do futuro. Acho que eles estão a interpretar aquilo como um documentário ou um guia com diretrizes de como preparar o futuro.
É claro que isto é uma péssima ideia.

Mas pronto, o Governo Americano acha que é boa ideia colocar este tipo de cães-robots a patrulhar a fronteira com o México. Há que manter aqueles imigrantes controlados 🤦♂️
Fotografias geradas por Inteligência Artificial
Isto é impressionante, nem sei bem o que dizer:
Mau uso da IA da semana
E depois de um exemplo de uso de IA tão interessante, vem mais um exemplo de como a humanidade consegue ser tão má às vezes. Então não é que uma linha de apoio ao suicídio estava a ceder as suas gravações áudio a uma empresa de IA para “aumentar as capacidades de empatia em conversação” de sistemas de IA?
Isto é só deplorável. Numa altura em que as pessoas usam estas linhas para terem algum tipo de ajuda e onde acreditam que estão num sítio seguro para expressar as suas preocupações e mágoas, acabam por descobrir que as suas conversas mais íntimas estão a ser partilhadas com terceiros, sem que isso seja explicado ou sequer justificado. Muito triste.
Neuralink vai começar testes em humanos
A Neuralink (mais uma das empresas do Elon Musk) está à procura da pessoa certa para chefiar o processo árduo e longo de testar o seu produto em humanos. E o produto em questão é o interface cérebro-máquina que eles têm estado a desenvolver na última década.
Esta é a sem dúvida uma tecnologia com um potencial avassalador mas é exatamente o tipo de coisa que pode ser o início de uma distopia típica de um livro de ficção científica. Basta ver quais são as ambições do Elon Musk para esta tecnologia:


Se isto servir para progredir toda a humanidade, é bom. Mas já sabemos bem como a tecnologia, e principalmente estas disrupções tão violentas, é uma criadora assustadora de assimetrias e desigualdades.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Wait But Why - Neuralink and the Brain’s Magical Future
A propósito da notícia acima sobre a Neuralink, lembrei-me deste texto do Tim Urban sobre esta startup do Elon Musk. Em 2017 ele acompanhou o trabalho da startup e conversou imenso com o Elon Musk sobre o futuro do interface cérebro-máquina. E daí surgiu esta profunda explicação não só sobre o que é o cérebro mas também sobre todo o potencial desta tecnologia. Eu sei que isto é antigo (aliás eu li isto há mais de 4 anos) mas continua a ser um texto (quase um livro) importantíssimo para quem tem curiosidade sobre esta temática. Não sei é se um fim de semana é suficiente para ler isto tudo.
Recomendações de atividades
Se são jovens estudantes (ou conhecem jovens estudantes) que gostam de mexer em robótica, então se calhar esta competição é para vocês: BotOlympics 2022.
Acontece em Abril (21 a 24) em Coimbra e é destinado para estudantes do ensino secundário, superior e pós-graduado. É uma iniciativa de valor.
Nota final
Se gostam de jogar Wordle (que agora foi comprado pelo New York Times), mas gostavam de jogar em Português, têm aqui um clone em PT: palavra-do-dia.
Bom fim de semana