Um sobre Zero #5
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Para celebrar o fim de uma era, o fecho do fórum de perguntas e respostas para internautas que é (e a 4 de maio irá deixar de ser) o Yahoo Answers, aqui ficam três excelentes exemplos do que por lá se encontrava:
Anteriormente... no Um sobre Zero
No episódio 55 do Um sobre Zero, o meu filho Francisco veio perguntar-me sobre Cookies. Eu mandei-o pesquisar a temática por ele próprio. Mas ainda assim tive de explicar depois em mais detalhe. Não me safo de lhe explicar estas coisas.
As notícias da semana
Space Jam e a história da Internet dos anos 90
Quando o Space Jam, o conhecido filme que incluía o Michael Jordan e os personagens animados dos Looney Tunes, estreou em 1996, foi acompanhado do lançamento de um site que representava o que era a internet dos anos 90. E talvez por piada ou simplesmente por amor ao aspeto retro do site, este marco da internet manteve-se intacto e intocável durante estes 25 anos...até agora.
Com o lançamento do remake do filme (desta vez com a estrela da NBA, LeBron James), o site foi finalmente renovado para uma versão mais... moderna. Felizmente, a Warner Bros. teve o bom senso de manter o legado do velhinho site, através do símbolo original do Space Jam no canto superior direito do site. Podem visitar o site aqui, em toda a sua glória dos anos 90.
Quando um mafioso em fuga se torna num influencer
Eu achava que isto era algo que era evidente, mas para o caso de haver por aí mais gente nesta situação, fica o aviso: se são criminosos que andam em fuga das autoridades, não se tornem influencers. Aparentemente, o mafioso Marc Biart, procurado pela polícia Italiana e em fuga na República Dominicana, decidiu iniciar um canal no Youtube onde mostrava os seus dotes culinários. Ele teve o cuidado de tapar a cara mas não teve a inteligência necessária para também ocultar as suas tatuagens que eram distintivas o suficiente para o identificar.
Se se tivesse mantido mais ou menos anónimo como tantos outros youtubers que têm uma dificuldade enorme em criar audiência, talvez se tivesse safado. Mas como parece que tinha jeitinho e acabou por se tornar popular, teve a infelicidade de ser identificado, apanhado e agora irá responder pelos seus crimes. Vida de influencer não é fácil.
Facebook volta à timeline cronológica
Esta é para rir, não é? Só pode! Ainda me lembro quando o Facebook insistia em dificultar a vida a quem queria manter uma timeline minimamente lógica e queria ver os posts por ordem cronológica. Até ao ponto em que aboliram completamente essa forma de consulta, em favor da timeline totalmente gerida por um algoritmo que ninguém fora do Facebook conhece.
Agora vão voltar atrás e vão permitir que a pessoa escolha ver os posts pela ordem cronológica. Isto vem agora como resposta aos constantes ataques feitos ao Facebook pelo facto de serem um veículo de promoção de desinformação e estarem tão intimamente ligados à má imagem que as redes sociais agora têm. Com esta medida podem simplesmente descartar-se da responsabilidade da forma como certos conteúdos se tornam virais, porque não há a pressão em cima dos utilizadores para verem especificamente certos conteúdos.
Adicionalmente, para quem pretenda continuar a usar a timeline gerada pelo algoritmo interno do Facebok, a empresa está também a trabalhar em formas de melhor apresentar as razões porque um post está a ser recomendado a um determinado utilizador. Duvido que estas medidas mudem a má percepção que existe sobre o Facebook, mas a ver se é um sinal de que o Facebook está no bom caminho para deixar de ser a fossa séptica que é atualmente.
Spotify reinventa a rádio
E o Spotify continua na sua busca pelo domínio do mundo áudio. Com a recente aquisição da plataforma Locker Room, uma app que permite a criação de eventos áudio ao vivo para interligar os fãs de desporto com os bastidores das suas equipas favoritas, o Spotify posiciona-se não só como um concorrente do Clubhouse, como também cimenta a sua posição para entrar em todas as vertentes do mundo áudio. E sob o lema de lançar "os futuros formatos de áudio", o Spotify pretende agora apostar forte nesta vertente de áudio ao vivo, principalmente no cruzamento entre a música e a conversa. Acho que alguém tem de dizer-lhes que isso se chama Rádio.
Oracle vs. Google e o copyright de código
O Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos da América decretou a sentença de um caso que já se vinha a arrastar há uma década entre a Oracle, a empresa detentora dos direitos de copyright da linguagem de programação Java, e a Google, que copiou parte desse código quando criou o seu sistema operativo para dispositivos móveis, o Android.
Durante anos, a Google afirmava que a cópia desse código estava protegida pela doutrina de "fair use", que defende que material que está protegido por copyright possa ser usado sem permissão expressa e sem compensação dos detentores dos direitos respetivos. Agora esta decisão não só safou a Google de pagar cerca de 9 mil milhões de dólares à Oracle, como abre o precedente importantíssimo de não permitir que código declarativo (que é usado para representar interfaces no desenvolvimento de softwares) seja protegido por copyright. Isto é um avanço importante para permitir a modernização e evolução no desenvolvimento de software, mas é preciso tempo para perceber quais são os limites estabelecidos por esta decisão.
A moeda virtual da China
A China anunciou a criação da sua própria moeda digital, numa tentativa de se livrar do domínio do dólar na economia mundial e como forma de ter ainda mais poder sobre a sua população. Isto tem tudo para tornar a sociedade Chinesa, já conhecida por ser uma nação em que a privacidade não é de facto um valor essencial, num verdadeiro estado controlador digno das mais macabras histórias de ficção científica distópicas.
A promessa das cripto-moedas e moedas digitais assenta exatamente na distribuição de poder para permitir a total independência do controle centralizado de uma qualquer nação. Mas com esta medida, em que deixa efetivamente de haver uma forma de ligar o dinheiro virtual a uma qualquer moeda no mundo físico (como o dólar), a China está exatamente a definir o caminho em que passará não só a conseguir monitorizar o consumo de toda a sua população em tempo real, como passará a conseguir controlar totalmente a riqueza dos seus cidadãos, tendo o poder para efetivamente fazer desaparecer o dinheiro de um qualquer dissidente.
Não consigo ver um ângulo positivo nesta história.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Current Affairs - "The Truth Is Paywalled But The Lies Are Free"
Eu aposto que vós, cultos ouvintes e leitores do produto Um sobre Zero, sentem-se de vez em quando frustrados (tal como eu) por ver que a desinformação reina em alguns cantos da internet., por vezes, até mais perto do que gostaríamos. Quando temos aquele amigo ou familiar que insiste em defender certas teorias da conspiração (sem grande fundamento) e queremos fazer o esforço de lhes mostrar fontes credíveis, acabamos por não conseguir porque muitos desses conteúdos estão depois protegidos por "paywalls", ou seja, bloqueios que exigem subscrições normalmente com pagamentos associados. Este artigo da Current Affairs, que recomendo a leitura, é um ensaio importante sobre esta questão e revela a necessidade que há de tentar encontrar um equilíbrio entre ter uma forma de compensar quem cria conteúdos jornalísticos de investigação com qualidade e ao mesmo tempo disponibilizar esses mesmos conteúdos para o máximo de gente possível.
Wired - "I Called Off My Wedding. The Internet Will Never Forget"
Há partes da nossa vida que ainda que possamos escolher incluir no nosso espólio digital, não quer dizer que nos definam ou que devam ser usadas para formar a persona digital que é a base das interações futuras na internet. Nesta história da Wired, Lauren Goode fala da sua própria história de que como uma decisão difícil de terminar uma relação e de não levar um casamento para a frente, insiste em assombrá-la em pequenos elementos na internet.
Este tipo de história faz-me sempre lembrar a situação que de vez em quando acontece comigo, quando o Facebook insiste em relembrar-me (em jeito de celebração) sobre um post de 2015 que continua a ser o post que mais "engagement" gerou entre tudo o que já lá publiquei. Infelizmente, esse post tem muito pouco para ser relembrado como uma memória feliz, uma vez que foi um post que fiz no dia em que o meu primo Miguel morreu. Mas como naturalmente, gerou alguma interação com muitas pessoas que felizmente tiveram coisas muito bonitas a dizer sobre o meu primo, o Facebook interpreta isso como algo para celebrar e insiste em relembrar-me todos os anos "daquele post extraordinário que gerou tantas reações". Precisamos de tecnologia mais empática e capaz de reconhecer contexto.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
The Cut - "The Truth About False Memories"
Eu sei perfeitamente que a minha memória me prega partidas e por isso mesmo não costumo muito confiar nela. Isto é uma das razões porque insisto tanto em anotar tudo e mais alguma coisa. Mas não fazia ideia dos extremos de implantação de memórias falsas que uma pessoa pode causar em si própria ou através de outra pessoa. Este episódio do The Cut é bastante interessante na forma como explora esta temática.
Brevemente... no Um sobre Zero
Estive recentemente à conversa com a Mafalda Farelo, a propósito do seu trabalho, o TheLabNotebook, em prol de uma boa comunicação de ciência. Ainda tenho de transformar essa conversa em episódio, mas estará brevemente disponível no Um sobre Zero.
Nota final
Por aqui, começa-se a conseguir ganhar alguma produtividade agora que as crias voltaram à escola. Esperemos é que não volte a piorar para voltar tudo para novo confinamento. Ah, e estou a adorar os finais de tarde cada vez mais longos.
Bom fim de semana