Bem vindos a mais uma edição da newsletter Um sobre Zero.
Um apontamento de humor
Chegou a Inteligência Artificial Criativa?
Há uma cena no filme I, Robot (baseado na compilação de short-stories do Isaac Asimov, com o mesmo nome) que marca um aspeto importante e muito discutido no aparecimento da Inteligência Artificial: conseguirá uma IA ser criativa?
A importância deste momento no filme advém da simples resposta do robot, sob a forma de uma pergunta, quando questionado sobre se conseguiria compor uma sinfonia ou pintar uma obra-prima: e o humano consegue?
Certamente, alguns humanos conseguem, mas não é de facto uma característica que é inerente a sermos humanos. E portanto, se assim é, poderão as máquinas ser criativas?
O que é ser criativo?
Comecemos por perceber o que é ser criativo. A definição do dicionário para Criatividade é: inventividade, inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc.
E realmente, a génese da palavra Criatividade parece ser evidente ao remeter-nos para a capacidade de criação de qualquer coisa, que se supõe que é nova, que ainda não existe. Portanto, ser criativo é ser capaz de gerar qualquer coisa nova. É ser capaz de pensar “fora da caixa” e encontrar soluções inovadoras, é a habilidade de gerar ideias originais e úteis, ou combinar ideias existentes de maneiras novas e interessantes. E esta criatividade pode ser aplicada em muitas áreas da vida, desde a arte e à música, até à ciência e tecnologia.
Alguns humanos são naturalmente mais criativos do que outros, mas também se diz que a criatividade pode ser desenvolvida através da prática de gerar ideias novas e diferentes, nomeadamente através da exposição a novas experiências, desafios e ideias, bem como pela vontade de correr riscos e experimentar coisas novas.
Mas tudo isto parece ser bastante abrangente e não nos permite definir se uma máquina poderá ou não ser considerada criativa.
Criatividade nas máquinas
O mais interessante de ter usado o ChatGPT nos últimos 4 meses é que começo a aperceber-me que este tipo de modelos é bom naquilo que sempre foi dito que as máquinas não seriam capazes de vir a substituir os humanos: em serem criativas.
Mas tendo em conta a definição acima, eu diria que os LLMs (Large Language Models) são efetivamente adequados para serem criativos. Deixem-me explicar.
Na última edição da newsletter, eu falei um pouco sobre como estes modelos funcionam. Na prática, os LLMs têm a capacidade de gerar textos que são o resultado de aplicar modelos estatísticos à geração de uma sequência de palavras.
Isto significa que o resultado dessa geração de texto pode ser textos novos e únicos que podem ser imaginativos, lúdicos, e até poéticos. Eu argumentaria mesmo que, exatamente pelo facto do texto gerado pelos LLMs poder nem sempre ser factual ou exacto, é valioso para fins criativos. Isto é, ferramentas como o ChatGPT são óptimas para a geração de conteúdo que não se pode considerar nem certo, nem errado. Simplesmente… é.
Então vamos ver se o ChatGPT acha que pode ser criativo:
A resposta do ChatGPT é… nem carne, nem peixe. Parece a resposta de um político, não se compromete. Mas tem razão num ponto: já existem exemplos de IAs que são capazes de produzir arte, música e literatura. Será isso suficiente para considerarmos que as IAs podem ser criativas? Eu diria que é impossível responder a isso. Tal como é difícil definir o que constitui uma obra de arte.
Mas isso não quer dizer que não nos podemos divertir com isso. Vejamos então se o ChatGPT consegue criar algo completamente novo:
Não tenho como comprovar se já alguém tinha proferido esta frase antes, mas dada a sua absurdidade e falta de ligação com a realidade, é pouco provável.
Agora vamos testar a capacidade do ChatGPT ser criativo mas baseado em algo que é real:
Não é algo que chegue aos calcanhares de um dos hits do grande Quim Barreiros, mas não deixa de ser uma tentativa surpreendente, nomeadamente ao nível de se basear no estilo do Quim Barreiros que é conhecido por ser um letrista “atrevido” e que gosta de deixar pequenos innuendos de cariz sexual nas suas músicas (embora eu não consiga perceber mesmo a referência aos “sósias de Calígula”).
Mas o ChatGPT não criou a letra de forma consciente. Aliás, não terá com certeza noção do que fez. Simplesmente… saiu-lhe.
Será o suficiente para ser considerado criatividade tendo em conta que a máquina não compreende o que fez? E se isto tivesse sido uma tentativa de um humano, poderia ser considerado criatividade? E se um humano usasse esta letra como base para depois iterar e criar uma nova versão ligeiramente diferente mas com o seu cunho pessoal? Aí já seria considerado criatividade?
Tudo isto é muito difícil de responder, mas é muito interessante de especular e discutir.
Quem diria que, de todas as profissões que a inteligência artificial poderia ameaçar, os artistas seriam os primeiros?
Notícias Várias
Twitter limita 2FA com SMS a subscritores
Esta é mesmo uma medida que eu não consigo compreender. Então o Elon Musk decidiu que usar um mecanismo de dupla-autenticação, e ainda por cima um que não é considerado sequer seguro, deve ser exclusivo dos subscritores do serviço Twitter Blue? Boas práticas de segurança devem existir por inerência num serviço, não devem ser uma feature premium! :🤦🏻
Mas pronto, já que escolheram limitar apenas o 2FA ao SMS, o melhor mesmo é aproveitar para mudarem para opções de 2FA mais seguras do que SMS, como por exemplo, usando uma app de geração de tokens temporários.
A semana dos 4 dias
O maior estudo mundial sobre a aplicação dos 4 dias de trabalho semanal, conduzido por cientistas da Universidade de Cambridge, juntamente com académicos do Boston College, nos EUA, contou com a participação de 61 empresas britânicas. O estudo, que decorreu de Junho a Novembro do ano passado, concluiu que das 61 empresas envolvidas no ensaio, 56 continuam (e tencionam continuar) a implementar a semana de trabalho de 4 dias daqui para a frente, devido aos bons resultados ao nível de produtividade.
É apenas um estudo, mas será este um sinal de que a sociedade está pronta para mudar o conceito da semana de trabalho? E como é que isto irá funcionar se não for um esforço conjunto de toda a sociedade ao mesmo tempo?
Recomendações de leituras
Forbes - 10 AI predictions for 2023
Não concordo com todas estas previsões (principalmente as relacionadas com condução autónoma e robótica) mas é um bom resumo do que esperar da evolução da IA em 2023.
Recomendações de podcasts
Cautionary Tales - The Inventor who Almost Ended the World
Não fazia ideia que um só homem era responsável por provocar tanta degradação ambiental no nosso planeta, mas (como sempre) esta história do Cautionary Tales traz tudo isso à luz de uma forma esclarecedora e cativante.
Recomendações de vídeos
Last Week Tonight - Artificial Intelligence
Se têm 28 minutos para gastar, este resumo do estado da arte de tecnologia de inteligência artificial generativa é engraçado, esclarecedor, inspirador e preocupante… tudo ao mesmo tempo. Vale muito a pena.
Nota final
O Pedro Pinheiro, convidado repetente do Um sobre Zero, decidiu também explorar a capacidade de gerar ficção do ChatGPT. O resultado é bastante interessante.
Até à próxima!
António Lopes