Um sobre Zero #6
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Sim, parece-me bem.
Anteriormente... no Um sobre Zero
Para quem é ouvinte recente do Um sobre Zero, gosto de recomendar alguns episódios passados. Esta semana, recomendo o episódio 27, onde expliquei a história do bug do ano 2000 e os bugs futuros que ainda vamos enfrentar.
As notícias da semana
O perigo das fugas de informação de utilizadores
A semana passada, conheceram-se mais alguns detalhes sobre a fuga de informação no Facebook em que cerca de 500 milhões de utilizadores tiveram alguns dados pessoais (que incluíram os números de telefone) partilhados publicamente. Esta semana soube-se de uma falha no Clubhouse que permitiu obter também alguns dados pessoais de cerca de 1 milhão de utilizadores da plataforma social de áudio.
É certo que com estes dados obtidos, um hacker não consegue entrar nas contas das pessoas, mas o que a generalidade das pessoas se esquece, é que estes dados são uma excelente ajuda naquilo que se chama de engenharia social. Com o nome, número de telefone, data de nascimento e outros dados deste género, um hacker pode simular contactos que parecem, para um utilizador incauto, vir de fontes fidedignas e assim ganhar realmente acesso a dados verdadeiramente importantes do utilizador, como credenciais de acesso a certos serviços.
Vejam o exemplo que o meu amigo Bruno partilhou de um SMS que ele recebeu que representa efetivamente este tipo de ataque. Ainda que compreenda a vontade de responder como ele respondeu, ao fazê-lo está também a confirmar ao atacante que o número é válido e poderão tentar outro tipo de ataques. Portanto, estejam atentos e evitem responder a mensagens, e-mails ou chamadas de números de origem desconhecida ou duvidosa.
A economia de criação está de vento em popa
Eu fiquei a conhecer o Jack Conte há mais de uma década, enquanto músico do duo Pomplamoose (com a Nataly Dawn) quando se tornaram algo populares com as covers alternativas que faziam de músicas muito conhecidas no YouTube. No contexto de se tornarem populares e de perceberem que serem vedetas do Youtube não era suficiente para fazer disto vida, o Jack Conte rapidamente percebeu também que era importante criar um mecanismo independente que pudesse contribuir para a sustentabilidade financeira não só dele mas de todo o tipo de criadores na internet.
Foi nesse contexto que em 2013 lançou a plataforma Patreon, que visa oferecer o modelo de subscrição a qualquer pessoa que pretenda fazer render a sua criação de conteúdos. E esta semana, através de mais uma ronda de investimento, essa empresa foi valorizada em 4 mil milhões de dólares, o que representa uma evidência clara de que se está a apostar na economia de criação. Tal como falámos no episódio 54 do Um sobre Zero, esta é uma área claramente em crescimento mas que ainda enfrenta alguns desafios complicados de resolver. É uma área para ficar de olho.
No Chip for you!
As exigências tecnológicas de um mundo em confinamento (com o crescimento abrupto do trabalho remoto e as comunicações em video-conferência) e a dificuldade de manter uma cadeia de abastecimento tradicional a funcionar numa pandemia, estão a deixar as suas marcas no mundo dos componentes eletrónicos. Os pequenos chips que estão presentes em todo o tipo de dispositivos ou máquinas parecem estar com elevada escassez, o que afecta áreas como a indústria automóvel, a computação, os eletrodomésticos, a indústria aeroespacial e as comunicações.
A ubiquidade deste tipo de componentes e a forma como a sociedade acabou por depender dos mesmos para todo o tipo de tecnologia, pode causar um verdadeiro problema se a capacidade de produção e distribuição não voltar ao normal (ou mesmo acompanhar o aumento da procura).
Quanto até a Apple, que é conhecida pelos seus contratos agressivos com fornecedores para garantir o fornecimento adequado da matéria prima para o fabrico dos seus dispositivos, está a ser afetada por esta escassez de componentes, é porque há mesmo problemas graves no mercado.
Mais um avanço no mundo da Física
Eu não sou de facto um entendido em Física e pouco percebo do funcionamento do Universo no geral, mas gosto de acompanhar o tipo de avanços que a ciência e investigação em Física vai produzindo. Não só porque esses avanços estão na base de grande parte do progresso tecnológico e científico da sociedade, como também permite responder a questões fundamentais sobre a realidade em que vivemos.
E parece que o modelo "tradicional" da Física que conhecemos poderá sofrer algumas alterações nos próximos tempos. Isto tudo porque têm surgido alguns indícios de que poderá existir uma nova força fundamental no Universo. Até agora, o conhecimento que temos sobre o funcionamento do Universo baseia-se na existência de 4 forças:
Gravidade (a força que todos nós sentimos ao viver no planeta Terra);
Electromagnetismo (a força que explica a interação entre partículas electricamente carregadas);
Força forte (a força que explica a união entre protões e neutrões e outras partículas);
Força fraca (a força que explica a decadência radioativa dos átomos).
Estas 4 forças explicam como todos as partículas no Universo interagem umas com as outras. Mas agora, há pistas que confirmam observações anteriores, e que alimentam a ideia de efetivamente existir uma quinta força que governa o comportamento de certas partículas sub-atómicas. E pode ser que isto ajude a construir um modelo mais completo de como funcionam certas partes do Universo, como a Física Quântica.
FBI a hackear servidores... para o bem
Sim, o FBI esteve mesmo a entrar em servidores alheios e a mexer lá dentro, mas foi tudo parte de um processo legalmente aprovado e com a intenção de "limpar" o que foi colocado lá por hackers que se aproveitaram de certas vulnerabilidades.
Aqui há uns tempos veio a público que o sistema Microsoft Exchange Server, que é usado em milhões de servidores pelo mundo fora para serviço de e-mail e calendário, continha uma vulnerabilidade que permitia o acesso indevido por parte de atores mal-intencionados. O problema dessa vulnerabilidade é que permitia que esses mesmos hackers conseguissem depois deixar lá uma "porta" para ataques futuros. E foi exatamente essas "portas" que o FBI foi agora remover.
É estranho ver o FBI, especificamente neste caso, a ter este tipo de atitude mais de ação interventiva do que de investigação policial (que é de facto o trabalho deles). Ainda por cima quando já houve tantos outros casos de hacking com implicações para a segurança nacional.
Recomendações de leituras para o fim de semana
New York Times - Kati Kariko helped shield the world from the coronavirus
Foi com a introdução das vacinas da BioNTech/Pfizer e da Moderna, que a generalidade da população mundial ficou a conhecer o termo mRNA. Tal como explicado nos episódios 43 e 44 do Um sobre Zero, uma das abordagens que mais sucesso apresentou na produção rápida e aparentemente eficiente das vacinas foi o uso do chamado RNA Mensageiro, um tipo de molécula de RNA que corresponde à sequência genética de um gene.
Apesar de ser uma abordagem conhecida há várias décadas, o seu potencial não foi logo reconhecido e foi apenas devido a alguns (poucos) cientistas que insistiram neste tipo de investigação, que nos permitiu agora recolher os benefícios desse trabalho de décadas.
Uma das pessoas responsáveis por este avanço na ciência é a Doutora Katalin Kariko, que foi imprescindível no desenvolvimento deste tipo de abordagem que permitiu criar uma das vacinas contra a COVID-19 em tempo record. Este artigo do New York Times conta a sua história.
Vice - The Mysterious Case of the F*cking Good Pizza
A pandemia veio "acordar" o mercado de entrega de comida dos restaurantes. Nem todos os restaurantes estavam dispostos ou preparados para entrar por esse caminho, mas a necessidade de fazer negócio (e em muitos casos sobreviver) assim o exigiu. Aplicações como Uber Eats, Glovo e DoorDash (nos Estados Unidos) foram e são essenciais em permitir que restaurantes que não tinham qualquer possibilidade de enveredar por este tipo de atividade de entregas, conseguissem agora mudar totalmente a sua atividade. Mas esta democratização da entrega de produtos alimentares também causou a rápida saturação do mercado com excesso de oferta. E quando certos restaurantes não têm grande capacidade de concorrer com os grandes franchises de restaurantes de fast-food e similares, há que recorrer a outras técnicas.
Este artigo da Vice fala exatamente sobre a técnica usada por vários restaurantes (que depois se vem a descobrir que é na verdade algo criado por uma única empresa) para criarem marcas de "restaurantes virtuais" (que são apenas fachadas para restaurantes que existem no mundo real mas com marcas muito menos interessantes) que possam ser mais atraentes nas plataformas de encomenda de comida.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
The Daily (New York Times) - A Vast Web of Vengeance
Este episódio relata uma história assustadora de como uma pessoa com um rancor bem marcado, decide fazer a vida de outras pessoas um inferno através da difusão de mentiras sobre elas na Internet. Numa era em que o imediatismo e aquilo que é polémico é o que reina na Internet, é assustador saber como todos nós podemos estar vulneráveis a este tipo de ataques e com muita pouca capacidade de defesa.
Brevemente... no Um sobre Zero
Tal como referi a semana passada, estive à conversa com a Mafalda Farelo sobre Comunicação de Ciência. Na próxima segunda-feira será publicado o episódio dessa conversa.
Nota final
Aqui há uns tempos, a Biblioteca Arquitecto Cosmelli Sant'Anna em Lisboa fez o amável convite para eu falar sobre inteligência artificial na tertúlia 1Livro, 1Cientista. Agora essa conversa está disponível em vídeo aqui, caso tenham a paciência para me ouvir falar sobre IA durante uma hora e vinte minutos.
Bom fim de semana