Um sobre Zero #12
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Realmente, não percebo porque é que não há mais malta a querer trabalhar em Ciência e Investigação. É basicamente isto:
Anteriormente... no Um sobre Zero
Episódio 59 - Futuro das Cidades - Parte 2
Esta semana, no segundo episódio sobre o futuro das cidades, continuei a conversa com mais convidados para explorar melhor este conceito de smart cities, que tecnologias podem ser usadas para melhorar o planeamento, construção e desenvolvimento das cidades e idealizar o que será a cidade do futuro.
As notícias da semana
Mais um criminoso apanhado por causa da internet
Na edição #5 da newsletter do Um sobre Zero, falei sobre um mafioso que acabou por ser apanhado pelas autoridades quando se decidiu tornar num youtuber e mostrar as suas receitas Italianas.
Mas aparentemente, há um senhor do Reino Unido que não é subscritor da newsletter e, como tal, não sabia que devia ter cuidado com o que coloca na internet quando se é um criminoso a fugir da polícia. Carl Stewart, é um traficante de droga de Liverpool que foi descoberto pela polícia por causa de uma foto de um queijo que colocou na internet.
E perguntam vocês: "Como assim... uma foto de um queijo?"
Pois, quando nós pensávamos que aquilo que o CSI mostrava das técnicas de "zoom and enhance" era tudo uma treta, parece que afinal não é assim tão treta como isso.
A polícia conseguiu usar a foto para analisar as impressões digitais do criminoso e assim associar à pessoa que estavam à procura. É óbvio que a foto foi obtida num contexto muito específico onde já haviam umas certas suspeitas, mas não deixa de ser interessante que tenham usado a foto para confirmar que a pessoa era mesmo quem pensavam ser.
Gasolina produzida a partir... do ar
Pois é, parece uma daquelas coisas saídas de uma notícia de 1 de Abril, mas aparentemente, é mesmo assim. Investigadores na Alemanha desenvolveram um sistema que permite efetivamente usar o ar para produzir material combustível. Como? Ora bem, eu explico.
O sistema começa por extrair dióxido de carbono do ar e armazenar esse CO2 de forma muito concentrada. Paralelamente, o sistema está também a produzir hidrogénio através do processo conhecido como hidrólise, que consiste na separação das ligações químicas da água para captar o hidrogénio. Posteriormente, o sistema pega no carbono e no hidrogénio captados e funde-os para formar hidrocarbonetos, que é no fundo o componente principal da maioria dos materiais combustíveis.
E agora, vocês, sendo pessoas altamente inteligentes e atentas, perguntam: "Então mas produzir esse combustível deve usar uma quantidade enorme de energia, não é? Mesmo sendo energia que viesse de fontes renováveis, porque é que haveríamos de gastar tanta energia só para produzir o combustível se já podíamos usar essa energia diretamente?". Pois, faz todo o sentido essa pergunta... para a maioria dos casos em que nós usamos energia.
De facto, se tivermos energia renovável à nossa disposição porque é que haveríamos de usar essa energia para produzir um combustível em vez de usar diretamente essa energia? Porque há situações em que a energia elétrica não é adequada de usar, como no caso dos aviões em que a densidade de peso/energia das baterias atuais não é ainda suficiente. Portanto, este tipo de combustível será mais adequado para esses use cases específicos.
Paparazzi dos amigos
Eu não quero parecer Velho do Restelo, mas apps como a Poparazzi fazem-me alguma comichão. Se não sabem o que é, eu explico. Esta nova app funciona ao contrário das redes sociais de fotografia típicas como o Instagram. Por exemplo, no Instagram nós é que tiramos as fotos que queremos e colocamo-las no nosso perfil. Na Poparazzi, nós não podemos tirar fotos a nós próprios ou mesmo colocar fotos no nosso perfil. Esse é o trabalho dos nosso amigos. Eles é que nos tiram as fotos e colocam na rede social indicando quem são, permitindo que as fotos vão assim parar ao nosso perfil (obviamente, cada pessoa tem o controlo sobre o que fica efetivamente público no seu perfil).
Eu percebo o conceito e até admiro a tentativa de apostar numa vertente menos egocêntrica das redes sociais. Ou seja, obriga-nos a pensar num olhar mais virado para a outra pessoa. Tentamos captar a sua melhor imagem e depois mostrá-la ao mundo. Porque gostamos dela, porque queremos que outros apreciem aquilo que apreciamos. A sério, eu percebo.
E foi só por causa dessa ideia romântica que decidi experimentar a app. Instalei e abri a aplicação. Até tem uma apresentação toda dinâmica, engraçada e muito focada nos jovens e na partilha dos momentos (que imagino que seja o que muitos querem pós-pandemia). Mas depois começa o peditório:
Precisa de acesso às fotografias
Ok, faz sentido. Uma rede social de fotografias sem acesso às fotografias do dispositivo não resultaria muito bem, pois não?
Precisa de acesso às notificações
Ok, é chato, não me agrada muito estar a receber as notificações, mas também percebo que seja necessário para que a rede consiga funcionar corretamente, até porque é através dessas notificações que nós sabemos o que outros andam a "postar" sobre nós.
Precisa de acesso aos contactos
Nope! Ter de lhes dar toda a minha lista de contactos já não é algo que estou interessado.
O problema é que eu não tenho controlo sobre o que outros farão com o meu contacto. Basta que uma das pessoas que tem o meu número decida entrar nesta rede e aceite partilhar a lista de contactos, para o meu número passar a constar do serviço e receber SMS de cada vez que alguém publicar uma foto minha.
É um pouco sacanice a mais para o meu gosto.
Cada um escolhe se quer ver likes no Instagram
Por falar em redes sociais de fotografia, o Instagram esteve a testar durante uns tempos a possibilidade de não mostrar likes nos posts que aparecem no feed da rede social, para no fundo deixar de exercer uma pressão sobre os utilizadores para que sintam que a qualidade das suas fotografias não está dependente de quantos likes as fotos recebem.
Quando ouvi falar desta investigação, achei extremamente interessante e importante dada a relação que se tem encontrado entre este tipo de redes sociais e a depressão em adolescentes e jovens. É a obrigação de sentirem que os seus conteúdos têm de ter muitos likes (e serem vistos pelos outros como tal) que faz com que muitos destes jovens tentem ser o que não são para chamar a atenção.
Infelizmente, o Instagram olhou para os resultados dos seus testes e decidiu não avançar com a abordagem de esconder os likes e passar antes essa decisão para os próprios utilizadores. No meu entender, isto é completamente inútil e estraga completamente o propósito da abordagem inicial proposta. Se se passa a opção para o utilizador, este não quererá naturalmente ficar de fora do que está a acontecer sabendo que os outros têm acesso ao número de likes.
Ainda está para vir a rede social que tem a coragem de não basear todo o seu conceito no sistema de likes e deixar que os utilizadores possam apreciar o conteúdo pelo que naturalmente é e não pelo valor imputado por outros.
Recomendações de leituras para o fim de semana
The Atlantic - Artificial Intelligence is Misreading Human Emotion
Leitura muito interessante sobre a utilização de IA para detetar emoções através das expressões faciais das pessoas que, não só é altamente falível, como representa um risco enorme se for algo adotado no futuro numa escala considerável. As emoções não são o tipo de coisa que dá para categorizar e classificar e fazer uso dessa informação como se se estivesse a tentar descobrir qual é o objeto de uma fotografia. As emoções são um espectro, são complexas e não é de certeza a face de uma pessoa que revela tudo o que precisamos saber (apesar de eu conseguir saber muito bem quando é que a minha mulher está chateada comigo só de olhar de relance para a cara dela... mas isso são casos muito específicos e onde a minha "rede neuronal" já teve muitos anos de treino).
Eu consigo facilmente imaginar um futuro distópico em que sistemas deste tipo são usados para medir a "felicidade" dos cidadãos e assim controlar/condicionar o tipo de interações que podemos/devemos ter. Parece-me um futuro horrível.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
Hidden Brain - Why Conversations Go Wrong
Adorei este episódio na forma como nos força a pensar sobre como conversamos com os outros. O que nós dizemos e o que os outros entendem. Tem histórias engraçadas ou curiosas e outras menos adequadas para sorrir, mas todas elas muito esclarecedoras da psique humana e a da forma como comunicamos.
Brevemente... no Um sobre Zero
Energia. Sim, vamos falar sobre energia. Brevemente.
Nota final
Já foram ver os resultados do inquérito sobre o Um sobre Zero?
Bom fim de semana