Um sobre Zero #14
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Para a malta que não percebe bem estes conceitos.
Anteriormente... no Um sobre Zero
Episódio 60 - Futuro da Energia
Neste episódio do podcast, o Pedro Pinheiro ajudou a explicar as várias alternativas de fontes de energia renováveis e sustentáveis que existem e a analisar qual ou quais delas serão as energias do futuro.
Um aspeto curioso: quando gravámos o episódio, ainda não tínhamos visto este artigo que faz referência exatamente ao tipo de abordagem descrita pelo Pedro do Vehicle to Grid. Não deixa de ser curioso que ainda vai ser a Ford com a sua pickup que vai conseguir revolucionar a adopção de veículos elétricos na população rural dos Estados Unidos. Com as excelentes reviews que a carrinha Ford F-150 tem recebido, e com o facto do Cybertruck continuar a ser uma miragem, acho que a Tesla perdeu claramente aqui a sua oportunidade.
As notícias da semana
O "armário do desespero" na Amazon
Os empregados dos armazéns da Amazon têm agora um escape para o stress e cansaço do dia-a-dia: podem fechar-se numa caixa, de seu nome AmaZen, e refletir sobre a sua saúde mental vendo vídeos de mindfulness. O que é que estes trabalhadores querem? Boas condições de trabalho, boa remuneração e respeito. O que é que lhes dão? Uma caixa onde se podem fechar e gritar até libertarem as suas frustrações.
Sinceramente, eu não percebo como é que nestas empresas gigantescas não há gente que olhe para estas ideias e diga: "se calhar não é muito boa ideia, não?". A desconexão entre a liderança e as necessidades dos trabalhadores é gritante e enquanto não houver a empatia necessária para compreender o que significa ter este tipo de trabalho e só se pensar em produtividade, não me parece que consigam efetivamente criar o ambiente em que as pessoas afirmem, com orgulho, que trabalham na Amazon.
O Facebook no "negócio" das orações
O Facebook está sempre a trabalhar em novas formas de conseguir extrair mais "sumo" dos seus utilizadores e agora encontrou uma boa maneira de capitalizar o "mercado" mais religioso. A empresa confirmou a semana passada que estão a testar uma nova funcionalidade chamada de "prayer posts" que serve, literalmente, para membros de grupos no Facebook pedirem (e até oferecerem) orações de e para as outras pessoas na plataforma.
Tudo é válido no mundo da extração de informação dos utilizadores para poder vender os tão valiosos anúncios. Até capitalizar com os "thoughts and prayers".
A app para criminosos que era... do FBI
Esta notícia é realmente impressionante e ainda vai dar muito que falar. Durante cerca de 3 anos, o FBI esteve "à escuta" nos telemóveis de algumas das figuras mais importantes do crime organizado mundial. Tudo porque estes criminosos estavam a usar uma plataforma específica que garantia a privacidade e segurança das suas comunicações, a AN0M. Ou pelo menos, era isso que eles pensavam.
O que os criminosos não sabiam é que esta plataforma era na verdade uma fachada do FBI para criar exatamente o tipo de mecanismo de comunicação que fosse apetecível para criminosos usarem. E durante 3 anos, o FBI esteve à escuta e recolheu tudo o que precisava para agora prender mais de 800 criminosos.
Se quiserem saber mais detalhes sobre esta operação, sigam esta thread no Twitter:
Jeff Bezos vai ao espaço
Na edição #9 da newsletter do Um sobre Zero, já tinha dado conta dos planos da Blue Origin para iniciar o seu programa de turismo espacial. Agora já foi anunciado que os tripulantes na viagem inaugural do foguetão New Shepard, será o próprio Jeff Bezos (dono da Blue Origin e da Amazon) e o seu irmão Mark Bezos.
Há ainda espaço para um terceiro tripulante, que vai ser decidido através de um leilão, que já está a decorrer, e cujo valor atual já supera os 3 milhões de dólares. Um dia, este tipo de turismo será normal e até vai haver daqueles vouchers que oferecemos no Natal, mas em vez de ser um jantar vinícola para dois, é uma experiência de 10 minutos no espaço. Até lá, fica disponível só para os milionários.
Extinção de estirpes do vírus da gripe
Tem havido uma transmissão tão baixa de casos de gripe durante esta pandemia, que há mesmo algumas estirpes do vírus da gripe que parecem ter desaparecido. Esta é a prova que necessitávamos para mostrar que já poderíamos ter usado algumas destas medidas antes para prevenir os surtos de gripe no Inverno, nomeadamente a higienização constante das mãos, uso de máscara (quando sentimos qualquer tipo de sintomas de gripe ou constipação) ou mesmo trabalho remoto quando as circunstâncias assim o permitem.
Se, mesmo depois da pandemia, mantivermos alguns hábitos e senso comum sobre como melhor nos protegermos no que toca a estas doenças transmissíveis, poderemos mesmo ter épocas de Inverno mais descansadas e sem as consequências que se têm visto no passado em termos de mortalidade em populações mais envelhecidas.
O uso absurdo de Inteligência Artificial
Há mais de 20 anos que comecei a dar os primeiros passos nesta área da Inteligência Artificial (IA) e que acabou por marcar o meu percurso académico. E cada vez que leio estas histórias sobre o uso distópico da IA, sinto alguma vergonha de dizer que estou sequer ligado a esta área.
O departamento da Polícia de Chicago decidiu criar há alguns anos um projeto de IA cujo objetivo era "prever crime" na cidade para melhor redirecionar os recursos policiais. E para tal, faziam uso da informação que tinham sobre crimes passados para prever crimes futuros. A ingenuidade de acharem que esta é uma abordagem que poderia produzir bons resultados nem sequer é a parte que mais me incomoda aqui, mas vamos por partes.
Primeiro, basear previsão de crime com base em dados passados é logo à partida uma má abordagem pelo simples facto de que as atividades criminais são fluídas. Um criminoso não pratica normalmente a sua "arte" constantemente no mesmo sítio ou circunstância e tenta introduzir alguma aleatoriedade porque sabe exatamente que é isso que permite a prática continuada sem que isso alerte as autoridades.
Segundo, porque o que se está a prever não é "crime", mas sim "detenções". Ou seja, os dados passados que estão a usar não são dados sobre os crimes que foram cometidos mas sim as detenções que foram feitas. E portanto, "prever crime" neste caso não é mais do que uma previsão das zonas onde houve mais detenções. Ora deslocar recursos policiais para as zonas e circunstâncias onde houve mais detenções no passado, é uma boa forma de garantir mais detenções no futuro, tornando-se numa profecia auto-realizável. Aqui estamos a falar de um caso em que o sujeito que estuda o fenómeno está na verdade a influenciar o próprio fenómeno. A consequência evidente deste tipo de ação é que o verdadeiro crime se desloca para os sítios que não estão a ser policiados.
E terceiro, como se estes pontos já não fossem maus o suficiente, há ainda o grave problema de preconceito racial nos Estados Unidos (e em particular nas autoridades policiais) que faz com que este tipo de abordagem se foque essencialmente em comunidades de minorias raciais. Como é o caso que é relatado no artigo, em que a vida de um afro-americano foi bastante afetada por este tipo de sistema. Muito triste.
Recomendações de leituras para o fim de semana
MIT Technology Review - How to poison the data that Big Tech uses to surveil you
É necessário redefinir a nossa relação com a Internet e na forma como partilhamos dados nesta rede. Eu não concordo muito com as abordagens descritas neste artigo sobre como tomar medidas defensivas (ou mesmo ofensivas) nos dados que partilhamos para não facilitar a vida às grandes empresas que vivem do negócio de explorar esses dados para servirem anúncios, mas a verdade é que isto é um sinal de que esta conversa é necessária. Talvez pensar num modelo em que nós somos compensados (pagos?) pelos dados que partilhamos? Não sei, é uma ideia. Mas é importante começarmos a pensar numa maneira em que as pessoas não são sempre as prejudicadas com a invasão da sua privacidade.
Recomendações de podcasts para o fim de semana
TED Talks Daily - Electronic pills that could transform how we treat disease | Khalil Ramadi
Ouvi este episódio e fiquei intrigado. Será mesmo isto possível, ou sequer realista? Não percebo o suficiente desta temática para sequer ter uma opinião, mas fiquei curioso e gostava de saber mais. Alguém por aí que saiba ou conheça alguém que saiba sobre este tipo de tecnologia/investigação? Adorava falar sobre isto no Um sobre Zero.
Brevemente... no Um sobre Zero
O próximo episódio do podcast irá apresentar mais uma iniciativa Portuguesa inovadora, com uma startup que está a trabalhar num produto que contribui para melhorar a eficiência energética nas casas dos Portugueses.
Brevemente.
Nota final
Eu ia falar sobre a WWDC21, mas o Rui Carmo já fez o resumo aqui. Ides ler.
Bom fim de semana