Um sobre Zero #19
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Não faço ideia se isto é verdade ou não, mas se for, que coisa mais cómica:
Anteriormente... no Um sobre Zero
Já ouviram o episódio 62 do podcast? É sobre desinformação e contou com os convidados Inês Narciso e Lourenço Medeiros.
As notícias da semana
Reconhecimento facial como controlo parental
A empresa Chinesa Tencent anunciou que está a trabalhar na criação de um sistema de reconhecimento facial para prevenir menores na China de continuarem a jogar jogos durante horas a fio. Este esforço vem no seguimento de uma lei que foi criada na China para prevenir exatamente que as crianças criem hábitos prejudiciais de jogarem durante demasiado tempo, e em particular jogos online. Essa lei incluía coisas como impedir que as crianças joguem durante as 10 da noite e as 8 da manhã, não possam jogar mais de 90 minutos por dia e até limitar os valores que podem gastar em micro-transações nos jogos.
Tenho sérias dúvidas que consigam resolver isto com reconhecimento facial e nem vou falar das implicações éticas da coisa, mas parece-me realmente o tipo de coisa em que estão a tentar usar um canhão para matar uma mosca. Os mecanismos de controlo parental já existentes parecem-me perfeitamente suficientes para este género de necessidades, portanto, este tipo de investigação provavelmente tem outras intenções menos benevolentes.
Biden a favor do "Direito a Reparar"
Já foi discutida no podcast a temática sobre o "Right-to-Repair" (no episódio 2 do Um sobre Zero) e a prática de várias empresas de tentarem impedir que os consumidores possam reparar os seus próprios dispositivos ou que requeiram esses mesmo arranjos unicamente em lojas ou distribuidores autorizados. Isto é não só uma questão importante em termos de liberdades individuais, como tem um impacto enorme na economia circular e nos ganhos ambientais pelo facto de se poder reciclar fortemente os equipamentos e aumentar o tempo de vida útil dos dispositivos.
Felizmente, começamos agora a ver alguns esforços no sentido de impedir estas práticas e um deles vem do outro lado do Atlântico, com o Presidente Joe Biden a dar indicações à FTC (Federal Trade Commission) orientações para definirem novas regras que impeçam os fabricantes de limitar a capacidade dos consumidores de "arranjarem" os seus próprios dispositivos. Daqui do nosso lado, a Comissão Europeia também já anunciou que tem planos para criar regras semelhantes, mas ainda não há detalhes.
Será que estamos mesmo a caminhar para uma futuro mais amigável do ambiente ou será que os lobbies vão ser mais fortes e impedir este género de iniciativas?
Github CoPilot e Copyright
Quando a semana passada referi o novo produto do Github, o CoPilot, cujo objetivo é ajudar os programadores com a produção de código, não falei logo sobre as vozes preocupadas com o facto do CoPilot ter sido criado com base em código já existente e que tem o seu respetivo licenciamento que obriga a qualquer trabalho derivado do original tenha o mesmo licenciamento e/ou que não possa ter aproveitamento comercial.
Neste artigo que partilho, é a opinião da autora que aquilo que o modelo gerado pelo GitHub fez não é razão para considerar uma quebra das regras do licenciamento. Para gerar o modelo, milhões de linhas de código com licenciamento GPL foram lidas e processadas, mas isso não é muito diferente de entrarmos numa livraria e começar a ler um livro. A livraria em questão pode não gostar e até nos pode impedir de ler o livro, argumentando que o temos de pagar, mas a verdade é que ao fazê-lo, não estamos a infringir uma regra de copyright.
Por outro lado, há quem diga que o facto deste modelo produzir código com base no que aprendeu no código licenciado já existente, deve ser considerado código derivado e como tal, o Github não o pode fazer com fins comerciais. Mas a autora refere um cenário hipotético que é importante termos em conta:
Those who argue that Copilot’s output is a derivative work of the training data may do so because they hope it will place those outputs under the licensing terms of the GPL. But the unpleasant side effect of such an extension of copyright would be that all other AI-generated content would henceforth also be protected by copyright. What would then stop a music label from training an AI with its music catalogue to automatically generate every tune imaginable and prohibit its use by third parties? What would stop publishers from generating millions of sentences and privatising language in the process?
Estão a imaginar este futuro assustador?
A App de meteorologia da Apple não gosta do número 69
Bem, nem sei o que dizer. Quem tem um iPhone e usa a app de meteorologia nos Estados Unidos (onde a temperatura é medida em Farenheit e não em Celsius) nunca irá ver a temperatura de 69º Farenheit (que representa uns simpáticos 20º Celsius). Ninguém sabe se isto é um bug ou se é intencional da parte da Apple, mas não me parece ser uma coincidência dado o conservadorismo que a Apple apresenta a alguns níveis.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Gizmodo - In 2030, You Won't Own Any Gadgets
Este artigo apresenta uma versão interessante sobre um futuro em que a ideia de posse é uma coisa do passado e que nós passaremos antes a alugar tudo o que queremos usar. Dada a efemeridade de muitos serviços e produtos, nota-se que já estamos a caminhar para esse futuro. Mas o artigo vai muito além dessa visão básica e explora aquilo que significa estarmos totalmente dependentes de quem cria e disponibiliza esses bens e serviços, dos quais nós fazemos apenas um uso temporário. Muito interessante.
Brevemente... no Um sobre Zero
Nesta segunda feira, sai o episódio 63 do Um sobre Zero, em que falei sobre o futuro da exploração espacial com o Professor Paulo Gil do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. Brevemente.
Nota final
Para o caso de estarem curiosos de como as pesquisas no Google podem ser diferentes de país para país, está aqui uma ferramenta bem interessante: Search Atlas.
Bom fim de semana