Um sobre Zero #25
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Há bugs lixados:
Anteriormente... no Um sobre Zero
No episódio 18 do Um sobre Zero, em junho de 2020, falámos sobre alguns aspetos do futuro da inteligência artificial. Tendo em conta o que aí vem no próximo episódio do Um sobre Zero, recomendo que (re)oiçam este episódio 18 para ficarem contextualizados em relação à conversa sobre inteligência artificial generalizada.
Facebook... no more
Eu sei que me estou a tornar repetitivo, mas acho que agora chega. Não quer dizer que será mesmo a última vez que vou falar do Facebook (porque pode sempre surgir alguma coisa bombástica que se justifique voltar a falar da rede), mas acho que já começa a ser desagradável, todas as semanas, as notícias serem preenchidas por este gigante da Internet.
As revelações do WSJ das últimas semanas já tinham evidenciado o problema interno e cultural que está instalado naquela empresa. O Facebook tem enfrentado um desafio complicado para a sua sustentabilidade futura, que consiste na "angariação" das gerações mais jovens. As estatísticas atuais de utilizadores mostram que os mais novos não querem ter nada a ver com o Facebook e os seus produtos relacionados. E a empresa já sabia que mais cedo ou mais tarde, teria de ir "atrás" destas camadas mais jovens para garantir o contínuo crescimento da plataforma. E uma forma de o fazer é fornecendo conteúdo que garanta que passam mais tempo a utilizar os seus produtos.
A questão é que a investigação do próprio Facebook revelou que o tipo de conteúdos que, não só atrai a malta como, a mantém mais tempo "agarrada" ao produto, é exatamente o tipo de conteúdo que é problemático: conteúdos inflamatórios, polémicos, chocantes e acima de tudo desinformação. Se pensarmos bem, é evidente. Um post simpático sobre o belo dia de praia de um amigo, merece no máximo 10 segundos da atenção da pessoa e um like. Enquanto que um post reaccionário sobre uma posição política ou conflito social, com uma pequena camada de desinformação à mistura, muito provavelmente vai despertar o "engagement" de muitos mais utilizadores e assim garantir a presença na rede que permite ao Facebook vender ainda mais anúncios.
Ora, o problema vem então depois. Quando o Facebook comprova isto com a sua própria investigação, o que é que faz? Combater a desinformação? Mostrar conteúdos mais positivos e empáticos? Não. Exatamente o contrário: manipular o algoritmo para que os conteúdos que são mostrados sejam aqueles que a investigação mostra que irá permitir que permaneçam mais tempo na plataforma. Mesmo que isso seja prejudicial para a sociedade. O Facebook não quer saber.
E como se isso não bastasse, esta semana tivemos um gostinho do que significa um grande grupo como o Facebook (que inclui Instagram e WhatsApp) ter tanto poder. Durante 6 horas, toda a rede do grupo esteve em baixo. Nenhum dos produtos do Facebook estava a funcionar. Isto até poderia ser interessante do ponto de vista de "jejum de conteúdo prejudicial", mas infelizmente mostrou mais uma faceta de como esta grande empresa pode ser prejudicial para a sociedade.
Aquelas iniciativas que o Facebook tem tido de levar a Internet a zonas do globo onde esta é inexistente até seriam de louvar, não fosse o facto de só fazerem isso para garantir o aumento constante da sua base de utilizadores (preferencialmente se forem mais jovens). O que faz com que haja regiões do planeta em que o Facebook é sinónimo de Internet.
Mas quando o Facebook está em baixo, o que é que isso representa para essas regiões? Caos completo. Veja-se o caso do Afeganistão onde grande parte da gestão de evacuação de refugiados do país é feita através de WhatsApp. Durante as 6 horas em que o Facebook esteve em baixo, houve vidas em risco.
Se calhar é poder a mais para uma só empresa. Resta-nos agora perceber o que se pode fazer, para que o estrago não seja irreversível.
Banir reconhecimento facial... na EU
O Parlamento Europeu apelou à banição do uso de tecnologia de reconhecimento facial por parte dos serviços policiais e no uso de técnicas de inteligência artificial para a previsão de crime. Apesar desta iniciativa do Parlamento Europeu não ser vinculativa, é, na minha opinião, um passo em frente na exposição deste tipo de problemas do uso indevido de tecnologia que ainda não é madura o suficiente para ser usada em áreas demasiado sensíveis da sociedade.
Tal como a tecnologia de condução autónoma, que apesar de ter mostrado avanços incríveis nos últimos anos, continua demasiado experimental para simplesmente poder ser livremente aplicada no mundo real, também os algoritmos de machine learning não estão ainda aperfeiçoados para poderem ser usados em contextos de deteção de perfis criminosos ou de classificação de cidadãos. Enquanto houver risco sério para a vida ou liberdade das pessoas, a tecnologia tem ainda muito que provar antes de poder ser aplicada.
Tal como temos uma agência do medicamento (que faz exatamente com que qualquer produto farmacêutico tenha de passar por um conjunto de testes e estudos rigorosos para ser aplicado no mercado), será que está na hora de criar algo semelhante para a inteligência artificial?
Clarear para combater as alterações climáticas
Na edição #8 da newsletter do Um sobre Zero, já tinha falado sobre a investigação que existe à volta da criação de tintas cada vez mais brancas para combater as mudanças climáticas. Numa cidade onde os telhados são maioritariamente escuros, a absorção extra de luz solar, provoca não só um aquecimento excessivo do ambiente circundante (contribuindo para o aquecimento global), como por sua vez, causa um maior consumo de energia para refrigeração no próprio edifício. A criação de tintas o mais brancas possível contribui assim para diminuir consideravelmente o aquecimento dos telhados de uma cidade.
Mas agora, o teste realizado numa das cidades mais quentes dos Estados Unidos da América, comprova que o mesmo conceito pode ser aplicado ao asfalto. Pintar as estradas da cidade com cores claras, permitiu uma redução da temperatura das estradas entre 10-12 graus Fahrenheit e uma redução de 2.4ºF das temperaturas circundantes.
É natural que esta não é uma receita milagrosa para resolver o problema do aquecimento global, mas a juntar a tantas outras, é mais uma iniciativa que pode contribuir para essa luta.
Recomendações de leituras para o fim de semana
Normalmente recomendo leituras de artigos longos ou até livros (como fiz a semana passada). Mas desta vez a minha recomendação para "leitura" é de uma thread muito interessante no twitter sobre a forma a Netflix apresenta os thumbnails em cada uma das séries no longo feed de séries quando entramos na aplicação.
(via @nosuchuser)
Brevemente... no Um sobre Zero
O próximo episódio, como já tinha referido na newsletter da semana passada, vai ter um convidado muito especial: uma inteligência artificial.
Mais detalhes só quando o episódio sair.
Nota final
Já foram votar no Um sobre Zero para os prémios PODES21?
Bom fim de semana