Um sobre Zero #33
Olá, eu sou o António Lopes e esta é a newsletter do Um sobre Zero, um podcast sobre o futuro da ciência e tecnologia.
Para entrar no fim de semana de bom humor
Bem, isto na verdade não é muito animador (tendo em conta a insistência do Putin em "conquistar" a Ucrânia e como isso nos pode trazer perto de mais uma guerra mundial), mas há que admitir que uma conta oficial do governo Ucraniano ter a coragem de fazer um meme à conta de um conflito geo-político, é de valor.
Anteriormente... no Um sobre Zero
Já ouviram o episódio 68 do Um sobre Zero? Não? Então do que é que estão à espera? Vão ouvir que vale mesmo a pena.
Foi uma excelente conversa com a Professora Maria Guarino sobre o trabalho que desenvolveu com a sua equipa para tentar vencer a luta contra a Diabetes. Para além do trabalho ser interessante, a Maria Guarino é sem dúvida uma excelente comunicadora de ciência.
Para além de que depois de ouvir o episódio, vão agradecer por não terem nascido na Grécia Antiga e de terem escolhido exercer a profissão de médico nessa altura.
Abandonar Redes Sociais
A cadeia de lojas de cosméticos e produtos de beleza e bem-estar, Lush, decidiu deixar as redes sociais todas de uma só vez, o que inclui o Facebook, Instagram, Snapchat, e TikTok. O CEO da empresa afirmou que a decisão veio no seguimento dos problemas que têm sido continuamente reportados sobre os efeitos nocivos das redes sociais na sociedade. Citando-o:
"Passei toda a minha vida evitando colocar ingredientes nocivos nos meus produtos. Agora há provas esmagadoras de que estamos sendo colocados em risco ao usar as mídias sociais. Não estou disposto a expor os meus clientes a este mal, por isso é altura de o retirar da mistura."
É claro que há aqui algum (muito) marketing à mistura, mas é interessante ver que há quem esteja disposto pelo menos a correr este risco de não estar presente num dos veículos mais poderosos de divulgação de marcas só para marcar uma posição sobre os malefícios das redes sociais.
Visão Artificial
Eu sei, eu sei, esta notícia já é antiquíssima em "internet years", mas passou-me despercebida e quando me passou pelas vistas esta semana, achei que ainda assim merecia uma referência na newsletter.
Uma mulher que aos 42 anos teve uma condição médica (neuropatia óptica tóxica) que destruiu rapidamente os nervos ópticos que ligavam os seus olhos ao cérebro, recebeu agora uma nova oportunidade de recuperar parcialmente a sua visão. Uma 'prótese visual' implantada diretamente no cérebro permitiu a esta mulher perceber formas bidimensionais e letras pela primeira vez em 16 anos.
Ao contrário dos implantes de retina, que é outro tipo de abordagem que está a ser estudada para usar artificialmente a luz para estimular os nervos que saem da retina, este dispositivo particular contorna completamente o olho e o nervo óptico e vai direto para a fonte da percepção visual.
Mas esta investigação ainda está muito no início e não se pode dizer que é uma terapia simples ou fácil de aplicar. Após submeter-se à neurocirurgia para implantar o dispositivo, esta mulher passou depois seis meses a ir ao laboratório todos os dias durante quatro horas para realizar testes e treinar com a nova prótese.
Ainda assim, este tipo de colaboração entre tecnologia e saúde deixa-me sempre fascinado e dá gosto explorar o que poderemos ainda mais fazer no futuro.
Futuro da Realidade Virtual/Aumentada
Nem de propósito, no seguimento daquilo que falei na semana passada sobre os rumores da Apple estar a trabalhar nuns óculos de realidade virtual/aumentada, esta semana, a Snap (empresa criadora do Snapchat) decidiu mostrar o seu protótipo para este tipo de tecnologia a alguns jornalistas de tecnologia.
Infelizmente, a crítica do jornalista do The Verge que teve oportunidade de experimentar os óculos não foi muito simpático:
It doesn’t take long to realize why Snap’s first true AR glasses aren’t for sale. The overall design is the highest quality of any standalone AR eyewear I’ve tried, and they make it easy to quickly jump into a variety of augmented-reality experiences, from a multiplayer game to a virtual art installation. But the first pair I was handed during a recent demo overheated after about 10 minutes, and the displays are so small that I wouldn’t want to look through them for a long period of time, even if the battery allowed for it.
É certo que a Snap está a trabalhar no mercado do casual-wear, de óculos que se podem usar em todo o lado e em todo o tipo de atividades do dia-a-dia, e não no tipo de dispositivos mais robustos que se pretende usar num contexto profissional ou lúdico. São mercados e ambições completamente diferentes, e por isso mesmo é natural que os protótipos ainda não se mostrem à altura. Mas lá havemos de chegar.
Leiam o artigo para mais detalhes e alguns vídeos de demonstração.
GPT-3 aberto para todos
Gostaram do episódio 65 do Um sobre Zero? Foi o episódio onde eu "falei" com o GPT-3, o modelo de inteligência artificial da OpenAI. Na altura, o acesso à ferramenta era ainda limitado e, como tal, nem todos tinham a possibilidade de experimentar este modelo.
Mas agora, a OpenAI anunciou que o acesso ao GPT-3 está completamente aberto. Portanto, se quiserem fazer pequenas brincadeiras como a que eu fiz no episódio do podcast, também já podem.
Do meu lado, eu vou continuar a usar o modelo para gerar texto para usar nos episódios ou mesmo quem sabe, nesta mesma newsletter. Cabe a vocês descobrir quando sou eu ou o GPT-3 a "falar".
37% do mundo nunca usou a Internet
Esta é a conclusão de um novo relatório das Nações Unidas que, apesar de refletir que houve um aumento de 800 milhões de pessoas a utilizar a Internet desde 2019, a verdade é que há ainda cerca de 37% da população mundial que nunca sequer tiveram acesso à Internet.
É de facto um confronto duro com a realidade, quando ainda tão recentemente fiz um episódio no Um sobre Zero sobre os 30 anos da Internet em Portugal.
Vem sempre à mente esta frase batida:
The future is already here, it's just not very evenly distributed. - William Gibson
O uso absurdo da Inteligência Artificial... Vol. II
Na edição #14 da newsletter do Um sobre Zero, eu acabei por publicar um desabafo sobre o facto de considerar um perigo enorme o uso de IA para predição de crime. E nessa altura, escrevi isso porque percebi que era ridículo haver startups que prometiam resolver um problema desta magnitude com IA e que ainda por cima garantiam que não iriam ter preconceitos associados.
Esta é uma daquelas alturas em que é chato ter razão, e novos dados que foram agora publicados, comprovam exatamente que este tipo de algoritmos, por se basearem em dados passados que estão historicamente impregnados de preconceitos raciais e sociais, são péssimas ferramentas para tentar resolver um problema que não é possível de resolver com este tipo de tecnologia.
A Inteligência Artificial está a ser usada como o novo "martelo", na tentativa de ser a solução para resolver todos os problemas. Mas a verdade é que a maior parte dos problemas não são "pregos" e como tal a IA não é a resposta. E mesmo os que são, têm de ser fortemente monitorizados para perceber se estão a contribuir para resolver o problema ou se estão simplesmente a piorar a situação. Infelizmente, investigação recente nesta área mostra que os humanos não são capazes de monitorizar os algoritmos e perceber se estão a funcionar corretamente. E outra investigação que tentou imbuir ética diretamente numa IA também não teve melhores resultados.
Talvez seja porque é um desafio demasiado complicado ou porque simplesmente não estamos a lidar com ele da melhor maneira. Talvez precisemos de combinar esforços de múltiplas áreas e criar verdadeiras equipas multidisciplinares para oferecer as perspetivas importantes que permitirão determinar se estamos no caminho certo.
O que é claro é que precisamos mudar a maneira como pensamos sobre a IA e como ela pode nos ajudar a resolver problemas, nunca esquecendo que é também importante usá-la de forma responsável. Não se trata apenas de usar a IA para o bem, mas também de garantir que as pessoas estejam cientes do impacto desse tipo de tecnologia a todos os níveis.
Recomendações de leituras para o fim de semana
AI&EI - Why Are We Failing at the Ethics of AI?
No seguimento do desabafo acima, vale a pena ler este excelente resumo de dois académicos sobre o porquê de não sermos capazes de resolver os problemas da ética e o uso responsável da IA.
Brevemente... no Um sobre Zero
Acho que ainda há espaço para continuar a conversa sobre o potencial da tecnologia na saúde. A ver vamos.
Nota final
Já viram as trends de pesquisa no Google para 2021 para Portugal?
Bom fim de semana